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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Professor Ciro Flamarion Cardoso - ARQUIVO DO BLOG SPARTACUS


Professor Ciro Flamarion Cardoso

  A intelectualidade brasileira perdeu um  dos seus maiores cérebros. O maior historiador brasileiro morreu no dia de ontem (29/06/13). Quando eu vi as notícias no Facebook ontem, não acreditei. Ciro lutava contra um câncer faz tempo e tinha acabado de se aposentar pela compulsória (aos 70 anos de idade). Foi um marxista até o fim, mesmo quando muitos da área das ciências sociais e humanas escolheram o caminho do pós-modernismo. Morre aos 71 anos um dos maiores intelectuais da história do Brasil e um de nossos maiores acadêmicos. Mas, apesar disso, não quero dar ênfase a esse fato. O Ciro gostava de dar aulas, gostava de ser professor e é o professor Ciro Flamarion Cardoso que eu quero lembrar. Eu, em minha ignorância, quando entrei para o curso de graduação em História na UFF em 2003, não tinha lido nenhum livro do Ciro ainda. Mas tive a sorte e o privilégio de tê-lo como professor logo no primeiro período da faculdade, no curso de História Antiga. Depois disso, entrei para o CEIA-UFF, grupo de pesquisa coordenado pelo Ciro e apresentei uma comunicação sobre as revoltas de escravos na Roma antiga. Com o tempo, fui sugado pela militância no movimento estudantil e político-partidária e não pude me dedicar à pesquisa, mas já no início, pude contar com sua generosidade e com o seu apoio no meu crescimento intelectual. Acabei fazendo minha monografia de final de curso partindo do tema da comunicação apresentada no segundo período de faculdade e tendo o Ciro como meu orientador. Muito aprendi com nossas conversas. Discordo totalmente daqueles que veem o Ciro como alguém rigoroso no fazer acadêmico. É verdade que ele nos orientava no sentido de elaborar bem nossas hipóteses, na definição dos temas e no uso dos métodos e da teoria, para ele fundamental - Ciro era um racionalista e não um empirista. Mas o professor Ciro valorizava também a originalidade, a criatividade e tive bastante liberdade na elaboração não só da minha monografia, mas também da minha dissertação no mestrado em História Social Antiga que fiz na UFF de 2009 a 2011. Ele incentivava os alunos a tomarem seus próprios caminhos. Ciro era solidário e pude contar com ele para a minha defesa contra esse Estado repressivo e opressor que vivemos, quando fui preso injustamente e de forma ilegal no ato contra Obama no Rio. O Ciro falava sempre de maneira franca. Talvez as pessoas mais hipócritas não entendam isso, mas nunca vi o Ciro se valer de argumentos de autoridade para defender seus pontos de vista, debatendo com argumentos racionais e abertamente tudo. Felizmente, o professor Ciro contou com algumas homenagens ainda em vida, afinal, homenageá-lo somente depois da morte faria pouco sentido para ele que era ateu, mas talvez nem tanto, pois sabemos que ele será eternizado na nossa historiografia como um dos mais curiosos e inventivos de nossos historiadores. É difícil encontrar algo sobre o que ele não tenha escrito, o que não tenha pesquisado. Ele era egiptólogo, é verdade, e estudou a escravidão nas colônias da América, mas também estudou a América pré-colombiana, a Grécia e a Roma antiga, o trabalho compulsório na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia, em Roma, os métodos da ciência histórica, é difícil encontrar algum tema que o Ciro não tenha estudado, analisado. A professora Sônia Rebel homenageou aquele que também foi seu mestre e amigo com um livro sobre a sua vida. Estudantes orientados pelo Ciro no mestrado, no doutorado, como o meu amigo Fábio Frizzo, sei que estiveram com ele em vários momentos felizes e também difíceis. O Ciro era tudo, menos um solitário. Tinha amigos. Ele não tinha somente pessoas que o veneravam, mas também pessoas que conviviam com ele e que foram marcadas por ele. O Ciro foi um dos professores que mais marcou a minha vida e é esse professor que eu quero homenagear. Muitos farão homenagens ao grande historiador que ele foi e devem fazê-lo, mas, para mim, o Ciro professor é que me marcou. Só posso pensar numa maneira das pessoas honrarem sua memória: leiam suas obras, aprendam com elas e as critiquem. O Ciro sempre foi um crítico e duvido que gostaria de ver sua obra intelectual transformada em obra sagrada, fossilizada. E lembremos os amigos, familiares, alunos e todos aqueles que conviveram com ele da pessoa que ele era. 

Rafael Rossi

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