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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Tendências para o futuro: os próximos 20 anos

Eu não acredito em previsões. A história é possibilidade e não certeza. Mas isso não quer dizer que não seja possível projetar cenários futuros prováveis a partir das tendências atuais, considerando que uma série de acasos e escolhas de sujeitos individuais e coletivos podem mudar os rumos estabelecidos como mais prováveis no momento da análise. Por entender a história como possibilidade também acredito ser válido o exercício da análise contrafactual para o passado, apoiada nas tendências e escolhas que estiveram efetivamente colocadas para os homens e mulheres que vieram antes de nós. Se existe destino, ele é a confirmação de uma possibilidade dentre outras tantas colocadas num dado momento e que se afirmou a partir de escolhas que foram feitas no curso de uma vida humana ou de uma época histórica. É com base nesses pressupostos que inicio essa conversa.
Em primeiro lugar, estamos vivendo o desfecho da trajetória de uma geração de jovens. Os agora adultos que acabam de abandonar a juventude e chegam aos seus 30 anos, tiveram seu batismo na política com o plebiscito popular contra a ALCA, as manifestações contra a Guerra do Iraque e o Fórum  Social Mundial e o seu momento decisivo no Brasil com as Jornadas de Junho de 2013; começaram os seus combates influenciados pelas manifestações anti-globalização e pelas insurreições na América Latina no início do século XXI e assumiram uma identidade mais definida  e um protagonismo real a partir da Revolução Egípcia e da Revolução Islandesa, sendo marcada pelo uso da internet como ferramenta de mobilização e as ocupações como principal método de luta (ocupações de praças públicas, de escolas, de universidades, etc).
Nós estamos vivendo ainda uma ressaca de um momento de enorme euforia e de conquistas simbólicas importantes no Brasil. Pela primeira vez em nossa história foi eleito um partido de esquerda e um líder operário para a presidência da República, tivemos num curto intervalo de tempo a Copa do Mundo e as Olimpíadas em nosso país e a aprovação de leis em favor da juventude, dos negros e mulheres, mesmo que esses setores continuem a ser vítimas do Estado brasileiro, mas, apesar dessas considerações, estamos diante de uma oportunidade  histórica perdida: a derrota e os limites enquanto esteve no poder da Frente Popular, que tinha como forças principais, a maior parte do tempo, grupos de esquerda e de centro-esquerda no Parlamento, no governo e na sociedade civil, como o PT, o PCdoB, o PSB, o PDT, a CUT, a UNE, o MST, e dos setores à direita apoiou-se principalmente no PL/PRB e no PMDB; o surgimento com a posterior estagnação de uma central sindical independente (a CSP-CONLUTAS) com uma direção trotskista (o PSTU); e o surgimento de um novo partido anticapitalista (PSOL) com um peso eleitoral importante, mas sem perspectivas de superação da Frente Popular, tendo, na prática, o projeto não declarado mas efetivo pelas escolhas políticas feitas de construção de uma Frente Popular mais à esquerda. O cenário atual sinaliza para uma derrota estratégica. A tendência de afirmação do totalitarismo de mercado sob a égide da indústria cultural e da consolidação da sociedade de consumo que prevalece nos países mais desenvolvidos é a tendência mais forte aqui também, mas se expressando de forma mais complexa, na medida em que convive com a miséria e com a superexploração. No entanto, a tendência ultraconservadora na política, que se afirmou como reação à esquerdização das massas num primeiro momento e se consolidou diante da frustração das expectativas dos trabalhadores diante dos limites do governo petista, um governo economicista mas não propriamente reformista, deve ser igualmente derrotada. A afirmação da consciência democrática diante da formação de mais de uma geração sob a democracia liberal, sendo esse período democrático mais longo que a nossa ditadura mais duradoura (a ditadura militar), impossibilita um projeto de direita de ditadura civil ou militar, sendo o mais provável a construção de um regime bonapartista que combine o Estado Policial com a democracia de massa. Aliás, a alternativa bonapartista se justifica exatamente pela destruição mútua das forças à esquerda e à direita e pelo equilíbrio catastrófico de forças que se estabeleceu e que tende a se prolongar no tempo. Na história até a natureza cumpre o seu papel. Sendo todos os homens mortais, a velha geração que apoiou o golpe militar de 1964 irá em breve morrer de velhice, boa parte de seus membros não deve demorar muito para morrer, levando à substituição do militarismo fascista pelo fundamentalismo cristão como principal força política conservadora a partir do crescimento das igrejas evangélicas com lideranças fundamentalistas nas cidades brasileiras e a forte presença desses setores nos meios de comunicação de massa. Esse setor já é e será mais ainda no futuro o principal ponto de apoio de um governo bonapartista apoiado na legitimação democrática das urnas.
No campo da esquerda e dos movimentos sociais, também é possível arriscar alguns palpites sobre a possível evolução de alguns movimentos e correntes de pensamento. O Trotskismo é uma corrente político-ideológica que exerce influência sobre uma parcela significativa da juventude estudantil desde a década de 1970 e na intelectualidade desde a década de 1920. O crescimento das correntes trotskistas em militância e aparição pública no período de Frente Popular foi relativamente significativo. Houve um inegável crescimento político do trotskismo no início do século XXI no Brasil e no mundo. Mas já é possível ver sinais de retrocesso político com as derrotas das principais lutas desse ascenso revolucionário que acompanhou a crise econômica mundial. O trotskismo era a última  grande corrente política do marxismo no movimento de massas. Depois da degeneração e superação da social-democracia e da degeneração do bolchevismo em stalinismo e da destruição do aparato stalinista internacional liderado pela burocracia soviética, a outra tendência surgida do seio tanto da social-democracia revolucionária quanto do bolchevismo-leninista que dela nasceu e que com ela rompeu, o trotskismo, parecia ter, finalmente, o caminho aberto para dirigir as revoluções do nosso tempo, mas quis a história que os anos de marginalidade política limitassem drasticamente suas possibilidades de crescimento e que o neoliberalismo fosse um fenômeno ideológico mais profundo que se esperava, abortando a possibilidade histórica de uma revolução socialista democrática e internacionalista. Porém, a persistência do movimento trotskista não terá sido em vão. Muitos passaram por suas fileiras por décadas e muitos mais na última década. A tendência é que se torne uma força no ambiente cultural futuro, na arte, na literatura, na comunicação (internet e jornalismo) e na educação (especialmente no ensino básico), com presença e influência significativas na nossa sociedade, podendo, quem sabe, em outras condições históricas e sociais, tornar-se uma força política com capacidade real de lutar pelo poder.
O anarquismo ressurgiu na política brasileira de forma significativa na sua versão black bloc a partir das Jornadas de Junho de 2013. A derrota desse movimento já é bastante clara. Mas deixou sementes de rebeldia. É provável a afirmação e o crescimento do anarquismo no ciberativismo nos próximos anos. Também tende a se tornar uma força social no ambiente cultural futuro, com uma presença um pouco menor mas considerável que o trotskismo nas artes em geral, na literatura, na comunicação (especialmente na internet) e na educação básica. Existe ainda a possibilidade de surgimento de uma Contracultura no futuro de forte inspiração anarquista e do pós-modernismo progressista.
Outra tendência política relevante na atualidade e para o futuro é o marxismo gramsciano. Essa tendência deve se tornar hegemônica nos partidos de esquerda e na esquerda como um todo no presente e no futuro próximo. Tendência de crescimento na Academia, no meio universitário, nas áreas de História e Ciências Sociais principalmente, rivalizando com o pós-modernismo.
O pós-modernismo tende a se tornar hegemônico nos movimentos sociais, rivalizando nos sindicatos e movimento estudantil com os trotskistas, os anarquistas e os gramscianos,e dominando os movimentos negro, de mulheres, LGBT, tendo um caráter progressista mas não marxista ou anarquista; o pós-modernismo progressista irá, em breve, se tornar majoritário nos movimentos sociais. O pós-modernismo, progressista ou reacionário, de esquerda ou de direita, deve afirmar sua hegemonia na Academia em todas as áreas de Humanas, pelo menos, mesmo que o pensamento tradicional de esquerda com teses mais ou menos modernizantes seja atuante e barulhento o suficiente para dar visibilidade à crítica ao pensamento pós-moderno.
Na educação, a tendência é que as descobertas da neurociência e a teoria psicológica das inteligências múltiplas exerçam forte influência nas práticas de ensino e nas teorias pedagógicas num futuro próximo.
E esse é o mundo que se abre para a geração do meu filho. Desde já, me desculpo por não ter conseguido fazer melhor, mas prometo seguir no combate e talvez reverter algumas das tendências que considero mais sinistras, mais sombrias para a humanidade, para o meu país, para a minha cidade e para a minha classe. Mas é isso que minha razão me revela. Como olho para a realidade como um jogador de xadrez que observa as possíveis movimentações e alternativas e respostas a elas de forma objetiva, não posso oferecer nada além do que uma análise meio observação e alguma coisa de cálculo de probabilidades, e talvez com alguma dose de intuição. No entanto, como acredito que a vontade joga um papel relevante na história humana, faço dessa quase previsão uma forma de agir sobre o futuro também, porque quando prevemos já fazemos o futuro, porque passamos a lutar no presente para confirmar ou reverter aquilo que prevemos. Esse é o segredo mais profundo do impulso de prever que os homens de todos os tempos e lugares sempre tiveram; é sempre uma forma de tentar controlar o futuro; no fundo é só mais um terreno da luta da vontade contra o destino. Pois que assim seja!

Rafael Rossi

domingo, 5 de junho de 2016

ARTHUR


Quando o seu coração bateu,
o meu bateu mais forte.
Quando ouvi o seu coração pela primeira vez,
o meu coração se encheu de alegria.
O nosso primeiro encontro foi amor à primeira vista.
Eu falei com você e você reconheceu minha voz.
Meu bebê, meu amor.
O fruto do amor mais puro e verdadeiro.
Já veio ao mundo irradiando alegria.
E quando você sorri, tudo se ilumina.
Sempre oferece um sorriso para alegrar
aqueles que já se acostumaram a não viver
toda a beleza da vida.
Você se aventura sem medo,
mas quando sente medo me abraça.
Se preciso, você chora.
E não aceita menos do que o que deseja.
Mas aceita o carinho de quem ama.
E até faz o choro virar riso;
basta uma brincadeira ou um colo
de quem te ama desde que você era só um coração.
E quando eu canto pra você,
você se acalma e sonha.
E como o Sol todo dia você acorda
com a luz do seu sorriso
convidando quem estiver perto de você a brincar. 


Rafael Rossi

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Crítica do filme X-MEN: Apocalypse

Crítica do filme X-MEN: Apocalypse:
Como fiz com o filme X-MEN: Dias de um futuro esquecido, escrevo sobre algumas coisas que pude observar no filme, mas sem entrar em detalhes para não tirar a graça pra quem ainda vai ver. Em primeiro lugar, é importante dizer que a nova trilogia de X-MEN: X-MEN: Primeira Classe, X-MEN: Dias de um futuro esquecido e X-MEN: Apocalypse é muito superior à primeira trilogia de X-MEN: X-MEN 1, 2 e 3. Na primeira trilogia a história estava centrada na disputa de projetos entre os dois grupos mutantes: os X-MEN e a Irmandade de Mutantes, a disputa entre Xavier e Magneto. Já nos últimos filmes se abriu o leque aparecendo os personagens do Clube do Inferno, Magneto e Mística (os dois líderes da Irmandade de Mutantes), as Sentinelas e agora Apocalypse e tudo indica que o próximo vilão será o Senhor Sinistro, como sugere a cena final depois dos créditos. O que possibilitou essa revolução nos filmes dos X-MEN foi X-MEN: Primeira Classe, até agora o melhor roteiro, que relacionou a história dos mutantes a eventos históricos de uma maneira que nenhum outro conseguiu, transcendendo o gênero de filme de herói. Dias de um futuro esquecido se apoiou num grande sucesso dos quadrinhos e em alguns dos melhores episódios da série animada clássica. Apocalypse é o maior vilão dos X-MEN e não tinha como não ser uma boa história. En Sabah Nur é o primeiro mutante, um megalomaníaco que pensa ser um deus e que defende a sobrevivência dos mais fortes. Diferente de Sinistro que é um cientista de estilo nazista, que tem uma leitura do darwinismo que o levou defender a criação através de experiências científicas de uma raça mutante pura e superior e de Magneto que é um líder de estilo messiânico mas que deseja uma sociedade livre para os mutantes, Apocalypse é um fanático que entende a seleção dos mais fortes pela luta e cultua a morte e a destruição, ele é a encarnação do mal. Esse filme resolveu todas as contradições pelas mudanças de diretor desde X-MEN 3 e fez referências a todos os outros filmes. Magneto se mostrou de novo um herói trágico e não um vilão. A história de Magneto aparece por completo; ele aparece sempre ligado aos setores oprimidos, de judeu do campo de concentração de Auschwitz a operário de fábrica no Leste Europeu, vivendo sob os regimes totalitários do nazismo e do stalinismo. Magneto sempre sofre tragédias, faz escolhas erradas e comete erros, mas se posiciona pelo que é justo e combate o verdadeiro mal. A ausência de Cable, o escolhido para derrotar o Apocalypse, foi solucionada colocando-se alguém que tem os mesmos poderes que ele para enfrentar o Apocalypse em seu lugar. E ainda se fez referência a um quadrinho clássico que é A Origem da Arma X. É um filme que vale a pena assistir. Destaque para a atuação da atriz que interpretou a Psylocke. Em suas aparições, chegava a roubar a cena, tendo sido melhor do que a Mística, que era a líder dos X-MEN nesse filme. Como era de se esperar, Charles Xavier, Magneto e Apocalypse, que representam os principais projetos políticos para a raça mutante - convivência pacífica com os humanos, luta pela liberdade e supremacia dos mutantes e a sobrevivência dos mais fortes entre os mutantes, foram os personagens que mais se destacaram.

Rafael Rossi

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Currículo profissional atualizado - maio de 2016

RAFAEL ALVES ROSSI
Brasileiro, casado, 32 anos.
Rua Souza Aguiar, 22, apto 506, Méier – Rio de Janeiro – RJ.
Telefone: (21) 3830-1019 / 99446-0453/ 994902365/E-mail: rafael_lit@yahoo.com.br.

FORMAÇÃO
·         Graduado em Bacharelado e Licenciatura em História. UFF, conclusão em 2008.
·         Mestrado em História Social Antiga pela Universidade Federal Fluminense, orientador Ciro Flamarion Santana Cardoso, conclusão em 2011.
·         Especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro, orientador Vinicius de Carvalho Monteiro, conclusão em 2013.
·          
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
·         Professor de História efetivo da Prefeitura do Rio de Janeiro (em exercício-admissão 2008).
·         Professor de História efetivo da Prefeitura de Itaguaí (em exercício-admissão 2012).

QUALIFICAÇÕES E ATIVIDADES PROFISSIONAIS
·         Participação do VIII Encontro dos Professores “Compartilhando e Construindo Ideias” da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Itaguaí como palestrante do tema “O papel da indústria cultural na alienação do tempo livre: o atrofiamento da fantasia e a mercantilização do ócio”, em 2015.
·         Apresentação de comunicação no XXI Ciclo de Debates em História Antiga “Tempo e História”, realizado pelo Laboratório de História Antiga (LHIA) do Instituto de História (IH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com trabalho cujo tema era “As Revoltas de Escravos na Roma Antiga e o seu Impacto sobre a Ideologia e a Política da Classe Dominante nos Séculos II a.C. a I d.C.: os Casos da Primeira Guerra Servil da Sicília e da Revolta de Espártaco”, em 2011.
·         Coordenação de uma mesa de comunicações no XXI Ciclo de Debates em História Antiga “Tempo e Espaço”, realizado pelo LHIA do Instituto de História da UFRJ, em 2011.
·         Parecerista ad hoc para o volume 4, número 1, da Revista Roda da Fortuna.2015.
·         Curso de Inglês (CLC Idiomas-UERJ,carga horária de 300h, conclusão em 2001).
·         Curso de Francês (FAETEC-CETEP/Quintino, carga horária de 240h, conclusão em 2011).
·         Participação do Seminário Nacional “Os Desafios da Dívida Externa e Interna para a Sociedade Civil”, realizado pela Rede Jubileu Sul/Brasil – Auditoria Cidadã da Dívida, no Centro Cultural da Universidade Cândido Mendes, em 2005.
·         Participação como ouvinte da II Jornada de História: Discussão da BNCC, realizada pela ANPUH-Rio, na Universidade Veiga de Almeida, em 2016.
·         Participação no XIII Congresso Ordinário do SEPE-RJ – “Escola não é fábrica, aluno não é mercadoria, educação não é negócio”, nos dias 26, 27 e 28 de maio de 2011.

PUBLICAÇÕES
·         Luta de Classes na Antiguidade. 1.ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015.(Artigos de História).
·         Poemas de Pedra e de Rosas. 1. ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2013. (Antologia poética).
·    O “Príncipe Tirano” e a “Democracia Militar” no projeto de construção de um Império Universal de Alexandre, O Grande e de Júlio César. Revista História e Luta de Classes, v.9, p.85-90, 2013.
·         Poema “Portas”. Jornal Novidades – Méier e Grande Méier. Ano VII – Edição 81, p.9. Março, 2016.



domingo, 27 de março de 2016

A CRISE SOCIAL DO SÉCULO XXI

A degradação moral da família invadida pelo valor de troca e pela lógica utilitária entre seus membros, a perda da aura de proteção comunitária das comunidades de vizinhos e a desagregação social das classes sociais com a perda do sentimento de classe, da identidade sociocultural e unidade política levam os indivíduos agora atomizados a se tornarem presa fácil do totalitarismo do mercado, do neofascismo infiltrado nas instituições estatais mesmo em regimes democráticos e do fundamentalismo religioso crescente nas instituições eclesiásticas. O indivíduo tem sua alma deformada pelas agências extrafamiliares que sustentam a ordem social vigente, especialmente a indústria cultural, mas todas as instituições, mesmo as tradicionais, mesmo os grupos sociais básicos, a família e a classe social, refletem a dinâmica narcisista e individualista da personalidade sob a égide do capitalismo em sua fase imperialista-totalitária e a lógica da vigilância e controle social da ordem judiciária-policial do Estado Policial que emerge das democracias de massa. A degeneração das lideranças políticas é mais uma expressão do atual estágio de declínio da civilização capitalista e a fascistização das organizações da sociedade civil é parte desse processo em que indivíduos desamparados se unem numa massa fascista em busca de salvação, de solução mágica para a situação de ruptura do tecido social. As reflexões filosóficas e cientificas e as manifestações políticas e estéticas devem ter como preocupação e como meta o indivíduo autônomo, a família como reserva de resistência ética e a luta social como luta de classes e de construção da classe trabalhadora em classe para si como elementos fundamentais no processo de emancipação humana e desalienação política e social. As agências psicológicas da sociedade, a família e a igreja, não tem mais qualquer contradição com as determinações do aparato burocrático de Estado e com os imperativos econômicos do capitalismo. A tecnocracia no poder impõe suas prescrições a todos. A não contradição é base de qualquer ordem social totalitária. As instituições sociais que formavam os indivíduos para o capitalismo tinham algum grau de autonomia e de contradição em relação ao Estado burguês e ao sistema econômico capitalista. Na época contemporânea isso deixa de existir e os sujeitos se tornam indivíduos massificados de uma sociedade de massa. Esse exército de fantasmas completa a sua metamorfose de sujeito em objeto, de ser humano em produtor-consumidor na sociedade de consumo dirigida por uma moral hedonista e por uma ideologia consumista e individualista a serviço da manutenção da ordem vigente, do estabelecimento da servidão voluntária no lugar da luta pela superação dialética desse estágio da civilização. Essa massa compõe ainda a opinião pública despolitizada formada pela televisão e pelo rádio e estimulada a se expressar ativamente por meio das redes sociais, na internet, contra a opinião pública politizada, democrática e racional formada pelos sindicatos, entidades estudantis e universidades. A sociedade industrial governada pelo ritmo da máquina e a vida alienada das grandes cidades produzem psicoses nos indivíduos e até mesmo psicoses coletivas como o fascismo, que irrompe de forma violenta e libera a energia destrutiva reprimida pela civilização e pela razão, dando lugar a manifestações de sadismo e tomando a forma de tática de guerra civil contra a classe trabalhadora e suas organizações. Essa ideologia tem lugar primeiro no seio da classe média, classe social que fornece os quadros políticos, administrativos e intelectuais tanto do proletariado quanto da burguesia, mas que, enquanto classe, é conservadora e sem perspectivas. A juventude de classe média passa a agir como os elementos marginais da sociedade, como o lumpesinato, e ataca de forma paranoica aqueles sobre os quais projetam seus demônios. Esse processo, no entanto, não fica restrito à classe média e tende a se expandir para o conjunto da sociedade na medida em que avança o processo de rompimento dos laços de solidariedade entre os grupos sociais e a atomização da sociedade destrói qualquer sentimento de empatia. A crise social do século XXI é a crise dos grupos sociais que sustentam a sociedade e que cada vez mais mergulham na ordem burocrática, autoritária e egoísta, que leva ao bonapartismo, ao cesarismo, como solução para a situação histórica de equilíbrio catastrófico entre as forças políticas e sociais em luta e a morte da utopia, aprisionando os homens num presente de pesadelo sem fim. Somente o resgate do humanismo, da utopia, da solidariedade e o estabelecimento de relações sociais profundamente livres e éticas entre os membros conscientes das sociedades humanas poderá reverter o caos social que se instala no Brasil, mas que segue uma dinâmica global, com manifestações mais ou menos graves no mundo inteiro. Essas novas relações éticas e afetivas devem ser totalmente livres do autoritarismo policialesco e do valor de troca, assim poderão se configurar nas bases de um novo contrato social, de um Estado racional e democrático que funcione pela democracia direta dos trabalhadores e com a eleição dos melhores membros da comunidade para exercer a administração pública e uma constituição estruturada a partir do bem comum como objetivo do governo e da vontade soberana do povo, caminhando assim em direção ao reino da liberdade.

segunda-feira, 21 de março de 2016

O Golpe Envergonhado: É sempre em nome da democracia

 O golpe de 1964 foi em nome da democracia e contra o totalitarismo comunista; para impedir que o Brasil virasse uma nova Cuba. Em 2016, mesma paranoia e mentiras do mesmo tipo. Agora é para impedir que o Brasil vire uma Venezuela, o novo fantasma latino-americano do imperialismo estadunidense. A estupidez desse tipo de afirmação é assustadora. O processo político que vive o Brasil e o governo petista são muito mais parecidos com o governo do Uruguai do que com os governos do bloco chavista (Venezuela, Equador e Bolívia). Além disso, o grau de concessões que o governo do PT está disposto a fazer refuta o radicalismo de esquerda que a direita fascista e que a direita liberal derrotada nas eleições tentam colar nele. Lula falou no ato do dia 18 de março para os movimentos sociais, mas o seu recado era para a burguesia; ao mesmo tempo que dizia que era de novo o Lulinha Paz e Amor em referência a política de conciliação de classes do seu governo, mostrava sua capacidade de mobilizar as massas. Dilma manchou sua trajetória e desonrou seu passado de luta ao sancionar a lei antiterrorismo, permitindo que a nova geração de militantes de esquerda seja enquadrada como terrorista pelos governos e Justiça reacionários do mesmo modo que ela foi na ditadura militar. E mesmo assim, a Rede Globo nascida na ditadura e a massa fascista que ocupa as ruas para derrubá-la não recuaram da tentativa de golpe de Estado, um golpe ainda mais envergonhado, porque a intervenção militar do passado instaurou um regime de terror no país, um golpe judiciário-parlamentar apoiado por bandos fascistas e por uma turba que pensa a política a partir do que lhe é ditado pela grande mídia e pelas igrejas na sociedade civil e pela repressão policial, judicial e militar do aparelho de Estado. Os partidos burgueses se movimentam para retirar os direitos sociais da nossa Constituição ao mesmo tempo em que instauram um Estado Policial.

sábado, 19 de março de 2016

O perigo da ascensão do fascismo no Brasil

O conservador e o fascista não são a mesma coisa.O conservador tem uma moral, uma moral arcaica, mas de qualquer modo tem certos princípios e até mesmo consideração pelas pessoas (mesmo que não respeite seus valores e comportamentos mais livres e progressistas); é o caso de um religioso, por exemplo, que tenha ideias antiquadas, mas que acredita na compaixão e na solidariedade. O fascista é algo bem diferente. O conservador pode agir com violência, mas é um ato excepcional. O fascista é sádico, paranoico e narcisista, ele sente prazer em causar dor no outro, principalmente naquele que ele demoniza, o objeto de projeção dos seus medos, preconceitos e vícios. O fundamentalista religioso, apesar de se basear em valores e ideias conservadoras, parece ter um modo de agir muito mais parecido com o do fascista. O conservador enxerga a vida pela ótica do senso comum e se baseia nas tradições. A classe média, a classe social que mais fornece quadros políticos, intelectuais e administrativos tanto para a burguesia, a classe dominante, a classe dos capitalistas, quanto para o proletariado e suas organizações, também é, enquanto classe, a mais frágil de todas, a mais sem perspectiva histórica e de futuro, a que mais luta pela conservação do seu modo de vida, a mais conservadora de todas. A burguesia é progressista e revolucionária no campo da economia e do desenvolvimento técnico, elevando o grau de riqueza e o nível tecnológico das sociedades contemporâneas, mesmo que seja conservadora no campo da política. Os setores mais pobres da classe trabalhadora lutam para modificar o seu modo de vida, por dentro do sistema ou contra ele, portanto, tende a ser mais abertos a opções políticas que proponham uma melhoria (mudança) no seu modo de vida. Também há uma diferença entre aqueles elementos da classe trabalhadora que desempenham o seu trabalho de forma coletiva ou que façam parte de categorias organizadas politicamente e de massa e os elementos da classe que desempenham o seu trabalho de forma individualizada, de forma autônoma, etc; estes últimos tendem a posições mais conservadoras, mais próximas do senso comum do que aqueles que pertencem a categorias que fazem greves, tem seus planos de carreira e para as quais os interesses individuais e os interesses coletivos se misturam, são interdependentes. Em momentos de crise política, econômica e social, elementos de classe média, especialmente pequeno-burgueses, pequenos proprietários, ou os filhos dessa pequena burguesia, essa massa ociosa que é parte da juventude de classe média, passam a se comportar como o lumpesinato, como marginais, como a ralé. Aquelas características e atitudes que geralmente são próprias de indivíduos de grupos sociais excluídos e brutalizados pela ausência completa de serviços públicos decentes, emprego e renda, isto é, pela ausência de civilização, passam a ser encontradas em setores de classe média também, geralmente em indivíduos menos intelectualizados (o que não quer dizer de baixa escolaridade, podem ser mão de obra qualificada e não ter o mínimo de refinamento intelectual, sendo destituídos dos valores humanistas que fundaram a moderna civilização ocidental, por mais que esses valores possam, muitas vezes, entrar em contradição com a prática daqueles que dominam a nossa sociedade). Esse fenômeno está se manifestando hoje com fascistas atacando verbalmente ou fisicamente, de forma individual ou organizada, aqueles que mal ou bem ainda representam a tradição iluminista na política e nas atividades intelectuais, assim como aqueles que representam os valores democráticos da igualdade e da pluralidade. O avanço desse processo constitui um fato grave. Um fascista não é uma pessoa respeitadora das regras sociais, que acredita num contrato social, como um conservador de direita ou um progressista de esquerda. A extrema-direita é reacionária, irracionalista, sádica e os elementos que ela mobiliza são altamente narcisistas e autoritários. O apoio passivo de uma massa ignorante a um setor minoritário mas ativo das massas, a massa fascista, pode mergulhar o Brasil numa situação de terra sem lei. Como revolucionário, não tenho nenhum apreço pela institucionalidade burguesa, mesmo o chamado Estado Democrático de Direito, que é mais uma das formas de dominação social dos capitalistas sobre os trabalhadores, mas, na medida em que não existe nenhuma possibilidade de revolução socialista num futuro próximo, a república democrática burguesa é o melhor regime político para a livre organização dos trabalhadores na defesa de seus interesses imediatos e históricos. Os fascistas também costumam dar sustentação a regimes políticos dominados por tecnocratas, especialistas que exercem suas funções conforme lhes é ordenado, que só cumprem ordens, sem maiores considerações éticas, sem fazer exame de consciência, e que gerenciam o Estado e a sociedade de modo a tornar toda a vida humana administrada e vigiada, seja no espaço público seja na intimidade. O comportamento lumpen da massa fascista e a atitude fria e alienada do tecnocrata são a própria face do terror totalitário. Uma sociedade como a nossa que, na vida social, está à beira da ruptura do tecido social, com vários elementos de barbárie crescendo a cada dia, e que, na vida política, vive um equilíbrio catastrófico entre duas forças políticas equivalentes, dois campos burocráticos que arrastam o conjunto da sociedade para o abismo numa disputa sem lei e sem limites pelo aparato de Estado, corre um sério risco com a ascensão dessa horda fascista. A turba que sai às ruas clamando por justiça a qualquer preço é formada pelos setores de classe média mais despolitizados da sociedade e que até ontem odiavam política; é a ascensão dos apolíticos na política, mas não se politizando, e sim atuando no sentido da desqualificação da política e do combate à ação política consciente e organizada. A opinião pública despolitizada criada pelas grandes emissoras de televisão ganha corpo com as redes sociais e passa a ter um papel ativo com a internet no sentido de atacar a já diminuta opinião pública politizada, educada no debate público democrático e racional a partir de instituições políticas, culturais e sociais, como partidos políticos, movimentos sociais, entidades estudantis, sindicatos, universidades. Esse é o quadro social grave que vivemos hoje.

Orgulho de ser trotskista

Que emoção ouvir a Internacional e ver a imagem e a história de Trotsky. Obrigado, Alberto Dines por esse Observatório da Imprensa. Orgulho de ser trotskista e ter feito parte de um partido trotskista. Nenhum social-democrata conformado com a realidade vigente e sem criatividade para imaginar um futuro possível radicalmente novo pode compreender isso. Nenhum stalinista que não enxerga a democracia dos trabalhadores como um valor fundamental de todo movimento socialista genuíno pode compreender isso. Agradeço ao destino por ter me aproximado prática e teoricamente desse marxismo. A utopia socialista, a causa revolucionária, a esperança de um mundo sem alienação, sem classe dominante ou burocracia governante, sem a exploração do homem pelo homem, esse é o legado de Trotsky para a humanidade, socialismo com democracia, revolução socialista mundial, organização internacional do proletariado e independente dos patrões e governos burgueses. Junto com Mariategui e Marcuse, Trotsky é para mim uma referência para a construção de um marxismo humanista e radical, isto é, revolucionário. As vagas identidades de esquerda e progressista não evidenciam com clareza o projeto estratégico e os princípios éticos e morais que norteiam a ação dos homens no mundo, por isso minhas definições são absolutamente claras e minha identidade também. A vontade se soma ao estudo atento; essa é a vacina contra a burocratização e contra a rendição ao existente, a visão derrotista que vê a vida como se nada de novo pudesse ser criado pela vontade humana sob a pressão da necessidade histórica. Trotsky permanece atual e serve de inspiração aos espíritos mais livres, combativos e devotados a uma causa mesmo estando em minoria ou sendo perseguidos. O trotskismo é o movimento político que foi posto na marginalidade pelos dogmáticos e que sobreviveu à perseguição do fascismo e do stalinismo. Essa memória precisa ser sempre resgatada.

Sobre a gravidade do momento que vivemos:


Lula deve ser investigado como qualquer outro cidadão, com ou sem foro privilegiado; o outro cidadão qualquer pode ser o Aécio Neves, por exemplo, já citado em delações premiadas.
No entanto, nada justifica que um juiz e policiais federais grampeiem e divulguem para a mídia uma conversa telefônica da presidência da República. Isso é um total absurdo e um golpe contra as instituições da República.
Para os "inocentes", o Judiciário e o Ministério Público fazem parte do aparato repressivo de Estado assim como as polícias e as forças armadas. Nenhum juiz pode salvaguardar a democracia, mas somente o próprio povo trabalhador.
Vivemos uma situação de equilíbrio catastrófico em que nenhuma das forças políticas em disputa tem força suficiente para derrotar a outra, nem oposição de direita nem o governo; o marxismo ensina que numa situação como essas a solução é o bonapartismo, o cesarismo, um governo autoritário. E esse é um perigo real.
Na América Latina atual, os golpes judiciário-parlamentares substituíram os golpes militares por ser recente e viva a memória do terror das ditaduras militares e o desgaste,portanto, da intervenção militar como alternativa golpista.O fato de setores fascistas e fundamentalistas religiosos se somarem a esses protestos e que nem a direita parlamentar liberal tenha espaço neles mostra que as massas que estão nas ruas, em sua maioria, se orientam ideologicamente por perspectivas antidemocráticas e seguem a orientação política da grande mídia burguesa surgida durante a ditadura militar. Portanto, os atentados contra a democracia, sob que pretexto for, devem ser combatidos.
Numa perspectiva socialista revolucionária, um governo de Frente Popular como o do PT só pode ser derrubado de forma progressiva pelos movimentos sociais e de esquerda nas ruas com bandeiras socialistas e populares e com o objetivo de instaurar uma democracia direta dos trabalhadores e um governo que vise o bem comum e não um governo oligárquico-tecnocrático como nós temos hoje. Um impeachment contra Dilma que coloque em seu lugar o PMDB corrupto e fisiológico, o partido da grande burguesia brasileira, do setor majoritário da classe dominante não é alternativa.
Importante dizer que a mobilização em defesa da democracia não deve se confundir com a mobilização em defesa do governo. As medidas reacionárias do atual governo como o ajuste fiscal e uma nova reforma da previdência também devem ser combatidas nas ruas. A Constituição sem os direitos sociais não é democrática para os trabalhadores, é apenas uma democracia liberal e formal para os ricos e proprietários; a democracia para os trabalhadores é a democracia política, mas também a democracia social.

Unir a esquerda por uma greve geral contra o ajuste fiscal, o impeachment e a lei antiterrorismo

Uma tentativa de crítica construtiva e de construção coletiva na polêmica honesta: Aos amigos militantes do PT e do PCdoB, enquanto a mobilização contra o golpe se confundir com a mobilização a favor do governo não será possível a unificação da esquerda, sem uma autocrítica pública pelo apoio ao governo Cabral que reprimiu manifestantes e fez prisões políticas e pelo uso do exército no governo Dilma no ato do leilão do campo de Libra e sem tentar derrubar no Congresso a sanção presidencial a lei antiterrorismo a mobilização popular possível contra os neofascistas será limitada. Aos amigos militantes do PSTU, fora todos é uma palavra de ordem apolitica ou anarquista e eleições gerais agora só favorecem a oposição de direita; negar a existência de um golpe não anula a realidade de avanço do fascismo no mundo com o crescimento de Trump nos EUA e Marine Le Pen na França e o golpe parlamentar ocorrido no Paraguai. Aos amigos militantes do PSOL, unir-se ao campo governista ou propor saídas eleitorais agora não são políticas classistas para a crise. A saída é a ação direta e a mobilização independente da classe trabalhadora unificada. Unir as centrais sindicais numa greve geral contra o ajuste fiscal, o impeachment e a lei antiterrorismo, as políticas da burguesia enquanto classe na conjuntura atual, é a saída. Dialogo com aqueles que podem construir a resistência popular, mas que devem para isso ir além de seus interesses particulares e pensar nas necessidades imediatas e históricas da classe trabalhadora.

sexta-feira, 18 de março de 2016

O Golpe Judiciário-Parlamentar e a Saída Classista e Socialista para a Crise

O Judiciário cumpre hoje o papel político que as Forças Armadas cumpriram no passado. O apoio de parte da população a Sergio Moro e a Joaquim Barbosa e os apelos ao STF, ao Ministério Público e à Polícia Federal para resolverem as questões da política é algo parecido com o apoio popular às intervenções militares do passado como as que depuseram Dom Pedro II, Getúlio Vargas e João Goulart. Mas com a ditadura militar de 20 anos de assassinatos,torturas, prisões políticas e desaparecimentos o recurso à intervenção militar ficou desgastado. Por isso, hoje a parcela da burguesia mais ligada à camada de tecnocratas no poder, a grande mídia e setores burgueses e de classe média próximos da burocracia de Estado, apela hoje para uma intervenção judicial e um golpe parlamentar para dar alguma legitimidade, alguma máscara democrática; nesse quadro, a repressão policial e as ações das forças armadas viriam somente no sentido de "manter a ordem pública", ou seja, impedir qualquer resistência ao golpe judiciário-parlamentar. As manifestações de direita compostas por pessoas brancas de classe média ou ricas expressam um conteúdo ideológico claramente fascista e cumprem o papel de dar uma legitimidade "popular" à deposição do atual governo de centro-esquerda no poder. As movimentações do PMDB nessa conjuntura demonstram o tamanho do equívoco político do PT em se aliar aos setores majoritários da classe dominante para poder governar. A indiferença de Dilma e de Lula com a repressão praticada por seus aliados no Rio de Janeiro, Cabral, Pezão e Paes, com certeza, pesaram na hora de receberem o apoio daqueles cuja injustiça sofrida foi ignorada pelo governo federal: profissionais de educação, estudantes, militantes do PSTU, do PSOL, black blocs, anarquistas; alguns militantes, simpatizantes, quadros políticos e figuras públicas do PT e do PCdoB se manifestaram contrariamente às prisões políticas e à forte repressão policial que muitos militantes e organizações da oposição de esquerda sofreram especialmente no último período, de 2011 a 2014 (ato contra Obama no Rio em 2011, greve dos profissionais de educação da rede municipal do Rio de 2013, jornadas de junho de 2013, manifestações contra a Copa em 2014), mas o governo federal, a presidente Dilma, o ex-presidente Lula e ninguém do alto escalão do governo se pronunciou publicamente repudiando os abusos cometidos contra militantes menos ilustres e que divergem do atual governo. O PT também não se retirou nem do governo Cabral nem do governo Paes motivado pelo repúdio à repressão ao movimento social, uma questão não só política mas moral. É importante contextualizar a situação política que vivemos para que se possa entender porque as massas não saíram às ruas em defesa do governo. Ainda há a questão do ajuste fiscal, que ataca os direitos dos trabalhadores, e a possibilidade de uma nova reforma da previdência proposta pelo governo Dilma. A oposição de direita (PSDB, DEM e PPS) e o PMDB trabalham pela deposição do PT, mas as denúncias contra Aécio Neves, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Michel Temer enfraquecem esse setor, que pode até controlar a máquina e ter uma ascensão ao poder por meio de sua localização privilegiada na institucionalidade,mas amargam o repúdio popular também, de todos os lados, e cada vez se desgastam mais. Levando tudo isso em consideração, acredito que não cabe à oposição de esquerda fazer uma defesa política de Lula como faz a esquerda governista, mas repudiar a violação de seus direitos de cidadão por uma questão de princípio e por entender que o pedido de prisão preventiva de Lula, assim como sua condução coercitiva,são atos de provocação de setores da burguesia e da burocracia que querem mergulhar o país num conflito aberto num momento em que as esquerdas e os movimentos sociais estão desorganizados e a confusão reina no lado de cá. Mas PSTU,PSOL,PCB e PCO,os partidos da oposição de esquerda, não podem deixar de condenar a tentativa de golpe da direita e se mobilizar contra ele sob pena de cometer os mesmos erros dos comunistas da Alemanha, que priorizaram a luta contra a social-democracia e deixaram o caminho aberto para a ascensão dos nazistas (é importante contextualizar também esse fato já que importantes comunistas revolucionários como Rosa Luxemburgo foram mortos durante o governo social-democrata alemão,o que alimentou o sectarismo entre os comunistas junto com a linha equivocada da burocracia stalinista na década de 30). A oposição de esquerda deve construir uma mobilização independente contra o ajuste fiscal do governo federal (PT-PMDB) e contra o golpe da direita(PSDB-DEM),essa é a única posição de classe possível, defendendo os direitos sociais e as liberdades democráticas.

Rompendo com a lógica dos campos: por uma política classista


Em tempos em que conceitos como o de luta de classes e consciência de classe saem do vocabulário e das análises de boa parte dos partidos e intelectuais de esquerda e cedem lugar a teses que enxergam a realidade como dividida em campos (o campo progressivo e o campo reacionário) e ao pragmatismo político, a rendição ao capitalismo como o estágio final da civilização, seja ele selvagem ou "humanizado", os últimos acontecimentos parecem contrariar essa concepção neorreformista. No momento em que os movimentos sociais começaram a se posicionar contra o golpe da direita reacionária, o governo Dilma sanciona a lei antiterrorismo, que pode e será usada contra os movimentos sociais em ocupações de terras e de prédios públicos no futuro ou mesmo em atos de rua durante grandes eventos, por exemplo. Já que não há grupos terroristas no Brasil, essa é a única finalidade de uma lei antiterror no Brasil do ponto de vista da burguesia. A maior parte da burguesia agora se coloca contra Dilma e Lula e a favor do impeachment, um golpe institucional, parte do processo de golpe judiciário-parlamentar, que começa com a intervenção judicial na disputa política nacional apoiada por manifestações de rua de massas fascistas de classe média e da classe alta e culmina no golpe parlamentar que é o impeachment sem base jurídica suficiente; mas essa mesma burguesia pró-impeachment apoia o ajuste fiscal do governo federal, do governo PT-PMDB, e a retirada de direitos sociais dos trabalhadores brasileiros. A defesa da democracia passa também pela defesa dos direitos sociais, porque, do ponto de vista da classe trabalhadora, a democracia é a democracia política, mas também a democracia social; a Constituição sem os direitos sociais é uma Constituição liberal, não democrática, e a democracia, uma democracia formal. A defesa da democracia passa também, evidentemente, pela luta contra o impeachment, contra o golpe fascista do setor derrotado nas últimas eleições e que não respeita a soberania popular. E, por fim, a defesa da democracia passa pela luta contra a lei antiterrorismo e a defesa dos direitos civis e políticos, das liberdades fundamentais. Nesse sentido, é preciso unir as centrais sindicais em luta, cada uma mobilizada no seu campo político (esquerda governista e oposição de esquerda) para a construção de uma Greve Geral, uma mobilização que necessariamente irá se enfrentar tanto com o governo como com a oposição de direita encabeçada por PSDB-DEM-PPS, pois os eixos principais e que resumem o programa da burguesia para o país hoje e, portanto, o foco da resistência popular são contra o ajuste fiscal, contra o impeachment e contra a lei antiterrorismo. É preciso unir CSP-CONLUTAS, CTB e CUT em torno dessas bandeiras. No campo eleitoral, a oposição de esquerda deve abandonar o sectarismo existente entre as organizações que estão na oposição de esquerda e construir uma Frente de Esquerda e Socialista entre PSOL, PSTU e PCB para as eleições municipais de 2016 para eleger vereadores socialistas em todo o país e fortalecer a luta dos trabalhadores dentro e fora da institucionalidade, conscientizando também os explorados e oprimidos da necessária independência de classe. Somente com uma política classista e um programa socialista somados ao esforço de unir a classe trabalhadora, a juventude e os setores oprimidos da sociedade será possível derrotar o atual golpe judiciário-parlamentar e a construção de um Estado Policial em nosso país, bem como o aprofundamento e radicalização do projeto neoliberal contra os direitos sociais do povo trabalhador e a barbárie fascista que começa a se manifestar na agressão sistemática de militantes e organizações de esquerda. Para fortalecer os movimentos sociais, sua unidade e a democracia dos trabalhadores contra a barbárie neofascista e neoliberal devem ser organizadas em todas as cidades do país em que isso for possível Assembleias Populares dos Movimentos Sociais, Estudantis e Sindicais para debater, decidir e organizar as pautas e as lutas necessárias para derrotar a classe capitalista brasileira, que é apoiada pelo imperialismo estadunidense, em sua ofensiva contra as classes subalternas. Isso é ainda mais importante num momento em que a situação política brasileira é marcada por um equilíbrio catastrófico, em que nenhum dos campos (Frente Popular e Oposição de Direita) em disputa são capazes de derrotar o outro, o que tende a levar a uma saída bonapartista, cesarista, autoritária, fascista para a crise, como ensina o marxismo e como ensina a história do século XX; o vazamento da informação, pelos próprios veículos da grande mídia, de que militares de alta patente conversariam nos bastidores com autoridade civis se colocando à disposição de agir para manter a ordem pública se necessário,os pedidos de intervenção militar nos atos da direita e o papel desempenhado pela mídia burguesa, o Ministério Público e o Judiciário com medidas de provocação gerando uma situação de conflito social aberto devem acender o sinal de alerta.O perigo é real. Só a mobilização independente da classe trabalhadora contra os patrões e o aparato repressivo de Estado poderá levar à vitória.

GREVE GERAL CONTRA O AJUSTE FISCAL, O IMPEACHMENT E A LEI ANTITERRORISMO!
FRENTE DE ESQUERDA E SOCIALISTA PARA AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2016!
FORMAÇÃO DE ASSEMBLEIAS POPULARES NOS BAIRROS E CIDADES DO PAÍS UNINDO OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS LUTAS! DEMOCRACIA DIRETA E PODER POPULAR!

quarta-feira, 16 de março de 2016

Currículo atualizado

RAFAEL ALVES ROSSI

FORMAÇÃO
·         Graduado em Bacharelado e Licenciatura em História. UFF, conclusão em 2008.
·         Mestrado em História Social Antiga pela Universidade Federal Fluminense, orientador Ciro Flamarion Santana Cardoso, conclusão em 2011.
·         Especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro, orientador Vinicius de Carvalho Monteiro, conclusão em 2013.

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
·         Professor de História efetivo da Prefeitura do Rio de Janeiro (em exercício).
·         Professor de História efetivo da Prefeitura de Itaguaí (em exercício).

QUALIFICAÇÕES E ATIVIDADES PROFISSIONAIS
·         Participação do VIII Encontro dos Professores “Compartilhando e Construindo Ideias” da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Itaguaí como palestrante do tema “O papel da indústria cultural na alienação do tempo livre: o atrofiamento da fantasia e a mercantilização do ócio”.
·         Apresentação de comunicação no XXI Ciclo de Debates em História Antiga “Tempo e História”, realizado pelo Laboratório de História Antiga (LHIA) do Instituto de História (IH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com trabalho cujo tema era “As Revoltas de Escravos na Roma Antiga e o seu Impacto sobre a Ideologia e a Política da Classe Dominante nos Séculos II a.C. a I d.C.: os Casos da Primeira Guerra Servil da Sicília e da Revolta de Espártaco”, em 2011.
·         Coordenação de uma mesa de comunicações no XXI Ciclo de Debates em História Antiga “Tempo e Espaço”, realizado pelo LHIA do Instituto de História da UFRJ, em 2011.
·         Parecerista ad hoc para o volume 4, número 1, da Revista Roda da Fortuna.2015.

PUBLICAÇÕES
·         Luta de Classes na Antiguidade. 1.ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015.(Artigos de História).
·         Depois da Meia-Noite. 1.ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2013.(Contos de terror).
·         À Flor da Pele. 1. ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2013. (Contos e poemas eróticos).
·         Poemas de Pedra e de Rosas. 1. ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2013. (Antologia poética).
·         Estado Independente. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2013. (Biografia).
·         Escritos Políticos. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2013. (Textos políticos).
·         Espírito Punk: Xerox do Blog. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2011. (Político/filosófico/poesia).
·         Toda Poesia. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2010. (Poesia).
·         Queda Livre – Tudo aquilo que ficou para trás. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2010. (Poesia/crônica).
·         Poesia e Revolução. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2009. (Poesia).
·         O “Príncipe Tirano” e a “Democracia Militar” no projeto de construção de um Império Universal de Alexandre, O Grande e de Júlio César. Revista História e Luta de Classes, v.9, p.85-90, 2013.










Meu currículo mais recente (de professor, pesquisador, escritor)

RAFAEL ALVES ROSSI


FORMAÇÃO
·         Graduado em Bacharelado e Licenciatura em História. UFF, conclusão em 2008.
·   Mestrado em História Social Antiga pela Universidade Federal Fluminense, orientador Ciro Flamarion Santana Cardoso, conclusão em 2011.
·     Especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro, orientador Vinicius de Carvalho Monteiro, conclusão em 2013.

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
·         Professor de História efetivo da Prefeitura do Rio de Janeiro (em exercício).
·         Professor de História efetivo da Prefeitura de Itaguaí (em exercício).

QUALIFICAÇÕES E ATIVIDADES PROFISSIONAIS

·    Curso de Preparatório de Voz e Canto (FAETEC-CEI/Quintino, carga horária de 192h, conclusão em 1999).
·        Apresentação de comunicação no XXI Ciclo de Debates em História Antiga “Tempo e História”, realizado pelo Laboratório de História Antiga (LHIA) do Instituto de História (IH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com trabalho cujo tema era “As Revoltas de Escravos na Roma Antiga e o seu Impacto sobre a Ideologia e a Política da Classe Dominante nos Séculos II a.C. a I d.C.: os Casos da Primeira Guerra Servil da Sicília e da Revolta de Espártaco”, em 2011.
·   Coordenação de uma mesa de comunicações no XXI Ciclo de Debates em História Antiga “Tempo e Espaço”, realizado pelo LHIA do Instituto de História da UFRJ, em 2011.

PUBLICAÇÕES
·         Luta de Classes na Antiguidade. 1.ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015.(Artigos de História).
·         Depois da Meia-Noite. 1.ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2013.(Contos de terror).
·         À Flor da Pele. 1. ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2013. (Contos e poemas eróticos).
·         Poemas de Pedra e de Rosas. 1. ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2013. (Antologia poética).
·         Estado Independente. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2013. (Biografia).
·         Escritos Políticos. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2013. (Textos políticos).
·         Espírito Punk: Xerox do Blog. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2011. (Político/filosófico/poesia).
·         Toda Poesia. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2010. (Poesia).
·  Queda Livre – Tudo aquilo que ficou para trás. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2010. (Poesia/crônica).
·         Poesia e Revolução. 1.ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2009. (Poesia).
·   O “Príncipe Tirano” e a “Democracia Militar” no projeto de construção de um Império Universal de Alexandre, O Grande e de Júlio César. Revista História e Luta de Classes, v.9, p.85-90, 2013.



Livro Luta de Classes na Antiguidade à venda na Sanfer Livros.

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Livro Luta de Classes na Antiguidade à venda na Sanfer Livros.


Sinopse:
O livro Luta de Classes na Antiguidade é composto por dois artigos que discutem o tema da luta de classes no mundo greco-romano. O primeiro é um estudo que trata das revoltas de escravos na Roma antiga, sendo as principais a Primeira Guerra Servil da Sicília e a Revolta de Espártaco, e o seu impacto sobre a ideologia e a política da classe dominante romana, com a mudança no discurso oficial a respeito da escravidão e dos escravos, refletida nos escritos dos intelectuais do império romano na passagem da República para o Principado. O segundo texto trata dos projetos históricos representados por Alexandre, o Grande e Júlio César, elementos divergentes no seio das aristocracias macedônia e romana, respectivamente, e que sustentavam sua tirania a partir da construção de uma democracia militar, tendo como seu principal apoio político a soldadesca, além do apoio popular. 

Poema publicado no Jornal Novidades, do Méier





Um poema meu foi publicado no Jornal Novidades, do Méier, edição de Março/2016. Quem puder, pegue o seu exemplar; é de graça no shopping do Méier.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Duas vezes dezesseis: a vida como um ato de vontade

No dia 6 de março, aproveitei a madrugada para refletir (e continuo refletindo) e na tarde de domingo comemorei meu aniversário com minha esposa e meu filho no Jardim Botânico. Isso não tem nada a ver com os fios brancos ou as entradas que se estendem pela minha cabeça abrindo caminho na minha cabeleira, talvez tenha a ver um pouco, mas também tem a ver com a conclusão de uma parte de minha jornada na Terra em que tive que abrir caminho a golpes de marreta. Tudo era urgente e o caminho mais difícil era sempre o melhor, assim eu podia testar meus limites, uma atitude em parte consciente em parte inconsciente, mas sempre presente nos desafios e escolhas da minha vida. Só sei que são muitas recordações e momentos para refletir. Há 10 anos atrás, com 22 anos, eu saí da casa dos meus pais e fui viver com minha companheira, vivendo do meu trabalho, pagando meu aluguel e conquistando minha independência. Há 8 anos atrás eu me casei com a mulher que foi minha namorada dos tempos de colégio, minha companheira de militância, com quem estou há 16 anos, metade da minha vida, metade do meu tempo de vida na Terra, desde 2000; nós nos conhecemos no grêmio da escola e somos ambos professores. É uma pessoa com quem tenho total afinidade intelectual, afetiva e sexual, porque sem isso a vida a dois é bastante difícil. Há 8 anos também comecei minha jornada no magistério dando aulas de História no ensino fundamental. Há 5 anos atrás, com 27 anos, passei pelo momento mais triste da minha vida, quando fui preso numa manifestação contra o presidente dos Estados Unidos, eu e outros, simplesmente porque os governos estadual e federal queriam mostrar serviço para quem de fato manda e porque estávamos portando panfletos e bandeiras, muitos gritaram contra esse atentado à democracia mas nem todos podem saber o que é sofrer uma arbitrariedade dessas, o ato foi no dia 18 de março e no dia 19 de março eu estava  indo preso por 3 dias (tempo de permanência do chefe do imperialismo), esse foi o dia mais triste da minha vida, 19 de março, no mês do meu aniversário. Anos depois, aos 30 anos, há quase 2 anos, vivi o dia mais feliz da minha vida, o dia do nascimento do meu filho, dia 05 de junho de 2014. O momento mais feliz para mim não foi o do nascimento dele, mas quando eu estava conversando com ele no berçário e ele reconheceu minha voz, parou de chorar e olhou nos meus olhos, é uma emoção indescritível. Tudo isso faz parte de mim. Comecei minha adolescência buscando por liberdade. "Liberdade acima de tudo" era o meu lema. O conflito com os pais (que é o conflito de gerações, algo tão antigo quanto a humanidade) e a curiosidade, a criatividade e a coragem de me lançar em várias experiências enriqueceram o meu ser e me colocaram no caminho da autonomia e do autoconhecimento. Os meus 13 anos foram o início do meu caminho próprio. Os meus 16 anos foram o início da minha vida consciente e da descoberta do verdadeiro amor, um momento em que liberdade e felicidade se cruzaram. Os meus 20 anos foram marcados pela afirmação de uma existência autêntica e pela devoção a uma causa, a causa da revolução socialista. O meu lema na minha juventude era "Lutar por justiça"; essa era a minha meta, a minha prioridade na vida, acima da realização pessoal. Hoje eu já alcancei o que podia em termos de liberdade pessoal num mundo de alienação e pertencendo às classes subalternas, à classe trabalhadora. Meu principal objetivo nos dias de hoje é ser feliz, alcançar o máximo de felicidade possível na realidade humana, sempre trágica, sempre limitada. Agora, aos 32 anos, sou, antes de mais nada, pai do Arthur e marido, namorado, companheiro da minha namorada dos tempos de escola e ex-companheira de partido, a minha Pâmela. Na minha juventude, com toda a dispersão e variedade de experiências que marcaram minha vida, foram dois projetos coletivos que tiveram o foco da minha atenção: primeiro, a banda de rock Estado Independente dos meus 13 aos meus 20 anos; depois, dos meus 20 aos meus 27 anos, foi a militância revolucionária no PSTU. Foram 7 anos em cada projeto, em cada grupo, em cada atividade em que colocava minha vontade concentrada. Tenho orgulho da minha trajetória. Tenho orgulho de ter sido liderança estudantil e dirigente sindical, de ter sido vice-presidente do grêmio estudantil do CEI de Quintino/FAETEC, diretor do CA de História da UFF e do DCE-UFF, coordenador-geral do SEPE Regional 2. Tenho orgulho de ter me empenhado em buscar mais conhecimento, em estudar mesmo fazendo tudo isso; fiz mestrado em História Social Antiga na UFF e especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea na Faculdade de São Bento. Também publiquei 7 livros pelo site Clube de Autores e 3 livros pela editora Multifoco e é esse o meu caminho no momento; vou com minha vontade concentrada apostar na atividade de escritor. É o projeto pessoal que pode me dar mais o sentido de autorrealização, mais uma fronteira para eu explorar o meu potencial e também um meio de imprimir minha marca positivamente no mundo, com o alcance que puder e que merecer, uma busca de imortalidade desse pobre ateu, uma busca de glória, de um lugar especial na memória dos homens, mas também, num sentido pragmático, a atividade que posso conciliar com minha atividade profissional  atual no ensino básico e com minha vida em família, com tempo para dedicar à minha esposa e filho. Como preciso me mostrar para ter sucesso nesse empreendimento, a busca de me libertar do narcisismo (caraterística psicológica da maioria das pessoas na época contemporânea) instaura uma contradição no meu ser e na minha vida nesse momento e que não pode ser resolvida sem paciência, prudência e inteligência. Essa tentativa de me libertar de todo narcisismo e vaidade, no entanto, não se confunde com um abandono total e completo do ego. O indivíduo é a invenção mais importante da cultura ocidental. A afirmação da individualidade na perspectiva de expandir as minhas potencialidades é uma expressão particular da expansão e desenvolvimento do próprio potencial humano e uma afirmação do humanismo. Quero me afastar ainda de todo o mal e ter como lema agora "Não praticar o mal", na medida do que é possível para um ser humano normal. Ninguém nasce virtuoso; a virtude é uma meta pessoal, assim como a utopia é uma meta coletiva; uma leva à existência plenamente racional, moderada e equilibrada e outra leva ao bem comum e ao reino da liberdade. Nasci no dia 6 de março numa terça-feira de Carnaval, sob o signo de Peixes, ascendente em Touro, lua em Áries, meio-do-céu em Aquário e sol na casa 11. Esse é meu mapa astral, mas não é meu destino, é só uma marca quanto tantas outras. Também nasci com asma e epilepsia, mas nunca permiti que isso significasse um obstáculo intransponível. Faço agora o dobro de dezesseis, duas vezes dezesseis, e fiz da minha vida um ato de vontade; criei a mim mesmo. Fico feliz de ter tido os companheiros de luta que tive nas batalhas políticas que travei. Fico feliz também por ter tido magníficos companheiros de viagem em todos os momentos desses trinta anos. O meu impulso de liberdade me permitiu iluminar os caminhos por onde passei, como o fogo que afasta as sombras e os medos e abre caminho na noite. O meu impulso erótico me permitiu construir laços sólidos e amplos de amor e de amizade e agradeço ao destino por essa sorte. A minha agressividade sublimada, canalizada para objetivos racionais serviu de combustível para a minha vontade. A minha paixão pela vida me permitiu aproveitá-la nos melhores e nos piores momentos. Minha energia, essa quase inesgotável energia física e mental (agora nem tanto!), também me permitiu superar as dificuldades que surgiram pelo percurso. Quero ter a sabedoria, a virtude e a coragem suficientes para seguir numa existência ética e autêntica, sendo o que é preciso ser em momentos de confusão como o que vivemos: uma reserva moral, uma luz para o futuro; como pai e professor esse é meu dever. Aprofundar o autoconhecimento e o autocontrole, mas jamais negar a verdade, mesmo pela necessária diplomacia em nome do contrato social. Não sou religioso, mas busco iluminação. Talvez até o fim da vida, até o fim dos tempos, mas hoje eu vivo e luto, e vou dirigir minha ação consciente sobre a vida prática, mesmo me dedicando às tarefas do pensamento; dirigir minha vontade concentrada em direção a um objetivo sem descuidar dos entes queridos e dos princípios éticos. Quisera eu fosse um herói ou um gênio, mas é como simples mortal que enfrento os desafios da vida! Estou pronto. Posso comemorar meus 32 anos com minha paixão dirigida a um objetivo prático e que minha razão me guie.