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sábado, 4 de março de 2017

33 ANOS E VÁRIAS VIDAS NUMA SÓ: CORRENDO CONTRA O TEMPO

O balanço da minha vida pela chegada de mais um aniversário veio mais cedo porque meu aniversário vai cair numa segunda-feira, dia de trabalho. No ano passado dei como título para o texto de balanço dessa minha caminhada "Duas vezes dezesseis: a vida como um ato de vontade" e de fato tem sido minha vida um ato de vontade, fui abrindo os caminhos levado pelo meu desejo e sustentei meus projetos com minha força de vontade, mas parece que a mão do destino também soube cair pesada sobre cada coisa que abracei. Dos meus 13 aos meus 20 anos me dediquei à construção do projeto coletivo Estado Independente, banda de rock que formei junto com meu irmão e meus amigos da rua onde cresci; eu escrevia a maioria das letras e era o vocalista, mas o baterista resolveu sair e depois não conseguimos tocar o projeto pra frente. Então, dos meus 20 aos meus 27 anos me dediquei à militância revolucionária num partido trotskista, o PSTU, e mais uma vez apostei num projeto coletivo. Assim como a banda foi importante para que florescesse minha poesia, minha capacidade de liderança foi em grande parte desenvolvida nessa experiência no PSTU. Mas depois de várias divergências políticas, que expressei em documentos publicados em congressos e conferência nacional do partido e depois que sofri uma prisão política numa manifestação e respondi um processo junto com outros companheiros por essa farsa policial e do governo do Rio, diante da incapacidade do partido de reconhecer os erros políticos que envolviam a segurança desse ato, escolhi a vida, vi que precisava seguir outro caminho. Tempos atrás uma crise de ansiedade me levou a fazer terapia por 3 meses, em grande parte motivada pela crise que eu tinha com minha profissão, pois a realidade da sala de aula contrastava com minhas expectativas, tendo a partir dali definido como projeto pessoal investir na carreira de escritor. Nesse processo que eu vivi em 2011, tive outra crise de ansiedade que me levou ao hospital com dor no peito. Ali eu vi que tinha que mudar minha vida. Alguns anos antes, uma convulsão enterrou minhas esperanças de abandonar a medicação para a epilepsia, doença que sempre me deixou mal pelo preconceito em relação a todas as doenças neurológicas e psiquiátricas existente em nossa sociedade. Além disso, ter uma doença neurológica significa ter limitações e eu não tolero limites e tento sempre alargar meu campo de possibilidades, ampliar os meus limites, mesmo que custe muitas vezes minha saúde. Esse desvio de rota que fiz em minha vida não sei se significou deixar de realizar toda a minha potência nessa vida, mas me permitiu me abrigar numa ilha de felicidade nesse mundo marcado pela infelicidade e aos 30 anos eu me tornei pai.
Segui nesses anos vários caminhos e realizei várias coisas ao mesmo tempo. Fui vice-presidente do grêmio do CEI de Quintino/FAETEC na adolescência, diretor do CA de História da UFF e do DCE-UFF na militância estudantil universitária e coordenador-geral do SEPE Regional 2 ainda no início da minha carreira de docente da educação básica no Rio de Janeiro. Fui representante de turma no segundo grau e representante estudantil no Departamento de História e conselheiro universitário na universidade e exerci papel de liderança em cada lugar que passei. Mas ao mesmo tempo fui tocando outras coisas. Fiz graduação em Bacharelado e Licenciatura em História na UFF, iniciando em 2003 e concluindo em 2008, e fiz mestrado em História Social Antiga na UFF de 2009 a 2011 com orientação do professor Ciro Flamarion, um verdadeiro mestre que passou pela minha vida e que conheci ainda no primeiro período quando tive com o Ciro a disciplina de História Antiga e depois disso ele foi meu orientador na monografia de graduação e na dissertação de mestrado e no grupo de pesquisa CEIA-UFF; eu  fiz também especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro em 2013; agora estou fazendo um mestrado profissional em Ensino de História pelo PROFHISTÓRIA, iniciado em 2016. Resolvi fazer esse novo mestrado porque senti a necessidade de me capacitar mais para o trabalho que efetivamente exerço que é o de professor da educação básica. Pretendo com isso melhorar minhas aulas dentro do possível nesse sistema e torná-las mais agradáveis para mim e para os alunos, algo importante já que tenho uma carreira no magistério, sou funcionário público e não é possível fazer de má vontade a mesma coisa todos os dias por 30 anos. Mesmo sendo o trabalho docente extremamente alienado nas condições atuais, devemos fazer tudo ao nosso alcance enquanto sujeitos para tornar nossa prática e nossa vida melhor. Sou professor de História da Prefeitura do Rio de Janeiro e professor de História da Prefeitura de Itaguaí; estou desde 2012 em Itaguaí e desde 2008 no Rio, já são 9 anos como professor do ensino fundamental, trabalhando com crianças e adolescentes do sexto ao nono ano. A escola em que trabalhei por mais tempo foi a Escola Municipal Mário Piragibe, onde trabalhei por 8 anos. Nunca me esquecerei da minha experiência e aprendizado nessa que foi minha primeira escola e de todas as pessoas que me acompanharam nessa trajetória, tanto alunos, alguns até amigos hoje, quanto colegas de trabalho, alguns deles amigos próximos. Um professor que marcou minha vida como estudante foi o professor Luiz Fernandes, de Sociologia, na FAETEC, que veio a se tornar um amigo mais tarde, ele era um professor militante e que sempre se preocupava em despertar em seus alunos o espírito crítico. Sem dúvida, é uma referência pra mim como prática docente na educação básica. Atualmente, tenho tentado resgatar até mesmo minhas referências de infância para trazer para a sala de aula e para a prática educativa como a contação de histórias que me marcou nos anos em que assistia o programa Canta-Conto da Bia Bedran. Eu também publiquei livros, poemas e artigos. Publiquei pelo site Clube de Autores os livros Poemas de Pedra e de Rosas, Estado Independente, Escritos Políticos, Espírito Punk: Xerox do Blog, Toda Poesia, Queda Livre - Tudo aquilo que ficou para trás e Poesia e Revolução. Publiquei depois pela editora Multifoco os livros Depois da Meia-Noite, À Flor da Pele e Luta de Classes na Antiguidade. Foram ao todo 10 livros. Publiquei também um artigo na Revista História e Luta de Classes em 2013: "O 'Príncipe Tirano' e a 'Democracia Militar' no projeto de construção de um Império Universal de Alexandre, O Grande e de Júlio César". No Jornal Novidades, do Méier e Grande Méier, publiquei os poemas "Portas" em março de 2016 e "Arthur" em fevereiro de 2017. Fui incansável nesses anos todos, tentando fazer realmente da minha vida um ato de vontade e correndo contra o tempo, como se tudo de vida que eu tivesse para despejar no mundo não contasse com a generosidade do tempo para se tornar efetivo, para ganhar materialidade, e eu tivesse que acelerar para conseguir colocar no mundo tudo o que tenho dentro do peito e da cabeça. Esse foi o sentimento que me impulsionou todo esse tempo, além da necessidade de provar o meu valor, de me superar, de testar minhas forças na realidade e de conquistar o meu lugar, motivado por esse desejo de eternidade que move os melhores homens. E sempre tentando conciliar isso com uma existência ética, buscando a virtude, o caminho da razão, da liberdade e do bem.
Acredito, sinceramente, que sigo as melhores tradições da minha família. Venho de uma família plural e democrática, uma família de ateus, agnósticos, católicos, evangélicos, candomblecistas, umbandistas e kardecistas, de italianos, indígenas, negros, portugueses, cariocas e mineiros, uma família de jornalistas, pintores, professores, músicos, historiadores, cientistas sociais e uma família com tradição de luta e de militância de esquerda, com muitos militantes originalmente do PCB que depois se dividiram entre o PPS e o PDT, e na minha geração com militantes do PT, do PSOL e do PSTU. A minha militância de esquerda, revolucionária, confirma a regra dos melhores legados da minha família, não é a exceção. Talvez eu tenha sido o mais radical em termos programáticos, mas a galera da "velha guarda"  merece respeito por sua militância na época da ditadura. Meus tio-avós, Maurício Azedo e Aparecida Azedo, que tive o prazer de conhecer, tiveram um papel destacado na sociedade brasileira, no jornalismo e na arte, respectivamente, e ambos na política. Os quadros de arte naif da Aparecida estavam expostos no MIAN e sempre levamos o Arthur para ver seus quadros e participar dos projetos do museu como o NAIF para nenéns. O meu ateísmo também é produto desse ambiente democrático em que pude optar por não fazer primeira comunhão. Apesar de todas as discussões com minha mãe na infância e na adolescência, o direito de não ter religião eu tive. E vou levar isso pra frente. Meu filho conhecerá esse legado e essas experiências e poderá fazer escolhas conscientes, cultivando as asas que vai precisar para voar e ir o mais alto que puder mas com raízes profundas nos melhores sonhos dos que vieram antes dele. Será livre como indivíduo, mas não deixaremos, nem eu nem a mãe, de projetar nossos melhores sonhos nessa vida que trouxemos ao mundo para fazer a diferença, assim como nós sempre fizemos. E poderá, como portador de tantas esperanças de futuro, escolher o seu melhor caminho, confiante em suas próprias forças. E é esse momento que eu vivo, o momento de cultivar a vida e o futuro para além de mim mesmo, como professor e pai. E tenho para me fortalecer todos os dias esse amor que me aquece há mais de 16 anos, 17 anos esse ano, com namoro, noivado e casamento, com minha companheira, Pâmela, com quem comecei a morar junto em Niterói, ainda na faculdade, e que agora vive comigo o dia a dia com nosso filho, Arthur.
Foram vários caminhos paralelos que se cruzavam em alguns momentos e tudo ao mesmo tempo, tentando vencer o tempo, esse trapaceiro. Não sei se o meu destino estava naquilo que morreu ou que eu abandonei ou se ainda está por vir, por se revelar, nem sei se o meu destino é justamente viver a vida com essa intensidade e diversidade, levando alegria por onde passo, eu que nasci numa terça-feira de Carnaval e já cheguei ao mundo em dia de festa, e força, criatividade e espírito de luta, eu que nasci com o sol em Peixes e na casa 11 (de Aquário), ascendente em Touro, lua em Áries e meio-do-céu em Aquário, o pisciano mais aquariano que existe e com a persistência taurina e as emoções intensas de Áries. Pai de um garoto de Gêmeos com ascendente em Sagitário e marido de outra pisciana. Que trago várias marcas, da genética, do meio sociocultural, da classe social, da experiência e da vivência pessoal e até do simbolismo astrológico. Tudo isso é quem sou e a imagem de quem sou. Eu que cresci no Campinho, filho de uma família de classe média baixa, e que agora moro no Méier, outro bairro do subúrbio do Rio. Que cresci com Carnaval na porta de casa na Intendente Magalhães. Eu trago toda essa energia comigo. Vou seguir com a minha força de vontade abrindo os caminhos para uma vida plena, mas vou correr menos contra o tempo, tentarei seguir concentrado no aqui e no agora, mas movido por um projeto de futuro e acelerando de vez quando for necessário. Até porque esse é quem sou, eu preciso fazer várias coisas ao mesmo tempo e gastar minhas energias, me ajuda a manter minha sanidade, afinal, que chata deve ser a vida em que os dias se repetem de forma tediosa?