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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

POEMAS DE RAFAEL ROSSI

PORTAS

Cada porta que eu abro são outras tantas que se fecham;
Cada escolha que eu faço são outras vidas que eu deixei de viver;
Cada porta que eu fecho atrás de mim é uma realidade que ficou para trás;
Cada janela que eu deixo de abrir é um muro de concreto à minha frente;
Cada muro que eu derrubo é um caminho que se abre;
Cada ponte que eu construo é uma ilha que se une ao continente;
Cada monte que subo é um passo a mais em direção ao infinito;
Cada rajada de vento que me derruba é mais uma vez em que tive que me levantar;
Cada nuvem de tempestade encobrindo o Sol é um Sol que nasce nos meus sonhos;
Cada porta e cada janela do prédio que construímos é uma vista pro futuro;
Cada estrada que pavimentamos é uma nova possibilidade e um novo destino;
Cada nova porta que abrimos é outra versão de nós mesmos que descobrimos.
Rafael Rossi






Orgasmo



Quero sentir o seu peito contra o meu
Quero sentir o calor que nossos corpos juntos emanam
Quero ficar dentro de você
Quero viver e morrer dentro de você.

Quando sinto sede, é a sua saliva que eu bebo
Quando sinto frio, o teu corpo me aquece
Quando sinto fome, te devoro.

Encontro abrigo no teu seio
Chupo os seus seios e me alimento da nossa paixão
Beijo os seus mamilos e a sua boca
Mordo suas nádegas como quem morde o fruto proibido
Incendeio o meu coração com o tesão que seu corpo me dá
E penetro o teu sexo com toda paixão
Amor e desejo se fundem no nosso prazer.

Os nossos corpos suados se encontram no Paraíso
Lamber todo o seu corpo, que sonho sensual!
Uma explosão de prazer encerra a nossa dança erótica
Não há represa para o rio violento da paixão
O nosso tesão nos liberta
Não é a visão nem a razão, é a pele que sabe
E é a sua pele que eu quero sentir
A vida sem orgasmo não vale a pena ser vivida.

Rafael Rossi


O que será

Vou regar a terra com sangue e suor
Arar o chão de asfalto
Fazer brotar o trigo
Não vou perder a fé.
Um vulcão em fúria
Explodindo meio mundo
Congelando o solo seco de cinza e fogo.
Girassóis hão de cobrir os campos
Irradiando sua beleza e luz
Até que o sonho de um sonho acabe
A lembrança que se esvai com o tempo.
Sou o que sou e o que posso ser
E o ser está sendo na vida
O ser é também aquilo que será.
Rafael Rossi







O sentido da vida

A vida é uma estrada de sonhos despedaçados
De flores mortas e promessas desfeitas
Ai, esperança desesperançada!
Que dilacera o peito nessas noites insones!
Que a morte cubra com o seu véu o luar
O doce luar que se esparrama pelo céu
E que ilumina a sinfonia de estrelas
Com luzes fortes e fracas, notas, tons e semitons.
Mil coisas, mil caminhos, mil bifurcações...
Duas vezes mil vezes um milhão
Que o nosso destino não seja o filho
Do Acaso com a Sorte!
Que tudo o que morra renasça
E germine nesta terra alagada
Que o solo de nossos corações não endureça
Nunca, pelas lágrimas que nos faltam
Que o choro preso na garganta
Seja para vós suficiente demonstração
De nossos sentimentos!
Que o medo que nos paralisa,
Esse frio na espinha,
Parta já daqui e me deixe quieto!
Ah, bela Madrugada, jamais se vá!
Ah, lindo Amanhã, quando chega?
Não vou rezar antes de dormir
Minha prece é o que faço
E se o meu fazer me define,
Não há lugar para Deus
No coração de um homem livre!
Coragem, não me abandone,
Não me negue sua força e seu abraço,
Fique comigo nas horas de desespero
E fira meus inimigos como uma adaga!
Aquele que vive com coragem não é um,
É uma legião!
Que os céus me ouçam,
Mesmo sem ninguém pra ouvir.
E se tudo nasce para que um dia se acabe,
Que não seja tudo em vão,
Que não seja sem propósito,
Que não seja ao acaso,
Que seja uma vida de significado!
Rafael Rossi







Tempo perdido


Quantas vezes emudeci,
quando devia falar?
Quantas vezes calei,
quando devia gritar?
Quantas vezes fui tímido e tolo
vendo o trem passar?
Quantas vezes tive medo
e me envergonhei?
Quantas vezes sonhei acordado
sem uma atitude tomar?
Quantas vezes duvidei
do que era capaz?
Quantas vezes abdiquei
de cumprir o meu papel?
Quantas vezes fugi
das minhas responsabilidades?
Quantas vezes jurei pra mim mesmo
tudo isso nunca mais repetir?
Quantas e quantas vezes
terei ainda disso escrever?
Rafael Rossi









Confissão em Terceira Pessoa


Ele era um sujeito átono.
Seu nome era de tal atonia,
que se perdia e não ecoava
nem no seu pequeno quarto.

Caminhando só na estrada,
não viu as placas;
não prestou atenção no que diziam
e foi perdendo os acentos diferenciais.

Um nome sem sílaba forte
é como uma imagem do cotidiano.
Passa despercebido.

Depois de mil anos e mil léguas,
andadas ou não, vividos ou não.
Foi então e somente então
que ele a achou.
Ele achou o porquê da acentuação:
era ela. Sim, era ela.
Das palavras a mais bela,
a mais doce, a mais sincera.
Era bem mais que um acento
ou um complemento nominal.

Hoje ele caminha
e ainda olha alguns sinais
e se encanta com sua tonicidade,
mas não há mais procura,
porque uma palavra forte é toda uma frase
e uma locução verbal é mais que uma oração
Rafael Rossi








Sons da madrugada


Ouça os sons da madrugada
Os que existem,
Os que existem e você não sabe,
Os que existem, você sabe, mas não vê,
E os que existem só em você.
Rafael Rossi







De como se perde a liberdade


Somos livres pra lutar por
Liberdade!
Somos livres pra lutar por
Decidir!
Somos livres pra deixar
Que eles decidam!
Que eles decidam se devemos
Decidir!
Decidir o que é bom, o que é seguro
Seguro...
Dentro de uma cela.
Seguro...
Como um animal na jaula.
Seguro...
Como um criminoso na prisão.
Seguro...
Como a segura vida de Ilusão!
Pobres daqueles que concedem poderes,
Porque quem concede tem poder,
Mas o Ignorante ainda não o sabe,
O Sem-Consciência não entende,
E reproduz a letra de um jogral!
Pobres deles... Pobres de nós!
Livres aqueles, seguros de nós,
Seguros de si, prisioneiros de ti.
Segurança-Histeria-Histeria-Segurança!
O caminho mais rápido
Para a Escravidão!
Mas... Silêncio!
Tudo cala; e se quem cala, consente...
Consinta; sinta; não minta.
Apodreça...
Na segurança do seu lar!

Rafael Rossi




Realidade e Sonho

Já pensou que sua vida era o sonho de alguém?
E se for, o que será do real, da realidade e o que é que tem?
A realidade é o que é real pra mim ou o que posso compreender?
É o que eu consigo descobrir ou o que não posso nem saber?
Já pensou se sua vida fosse o sonho de alguém?
E se ela é, o que será de nós e do que nos convém?
O que planejamos, o que sonhamos, de nada serviu?
E se eu descobrir que você é meu sonho também?
E o que eu quero e que nem sempre posso ter,
Será que eu consigo ter, se ao acaso nascer bem?
O destino existe e está traçado ao nascer?
Ou será que o fazemos no nosso próprio viver?
No nosso triste sofrer?
Seguir tudo o que o mestre mandar,
Seguir tudo o que o mestre mandar,
Seguir tudo o que o mestre mandar,
Não seguir nunca o que o mestre mandar,
Não seguir nunca o que o mestre mandar,
Não seguir nunca o que o mestre mandar,
Será que temos escolha, podemos optar?
Já pensou que sua vida fosse o sonho de alguém?
E se tudo o que toca não for nada além?
Já pensou que sua vida é o sonho que sonhou?
E se tudo é como sonho e quando sonho
E como sei quem acordou?
Como sabes que acordou?
Quando estou dormindo e quando estou acordado?
Se posso controlar o sonho e saber que estou sonhando,
E acordado sonho, mesmo ainda andando,
Como definir o que é o sonho e o que é a realidade?
Você já pensou alguma vez que sua vida fosse o sonho de alguém?
Você já sentiu frio, um calafrio, um assobio ao pé do ouvido,
De que a morte é o fim de tudo
E para onde vai sua consciência?
E tudo o que você viveu?
E pra quê viveu?
O que faz sentido?
E o que não faz?
O que fazer, se nascer é começar a morrer,
E se a morte não é o início de nada,
A não ser aos vermes, talvez para eles,
E a angústia que isso provoca
Em saber que tudo o que aprendeu e que viveu,
Que sorriu e que chorou e que tocou
Tudo vira pó, tudo já virou
E qual é o sentido disso tudo
A não ser o sentido que damos a isso tudo
O livro que escrevemos,
A estrada que corremos e percorremos e voltamos,
Pegamos o retorno, mas nada volta,
É só uma outra saída ou uma nova entrada
Depende de quem vem
E você já sonhou que sua vida era o sonho de alguém?
Já pensou que pensaram que tudo fosse sonho no sonho de alguém?
Já pensou que a vida é um piscar de olhos na eternidade?
E o que é eterno, o que é imortal?
E o que perece e o que renasce e se renova?
E o que renova já é o novo ou é o velho requentado?
E a volta que o mundo dá sob o mesmo eixo,
É sempre uma volta nova, em torno daquilo que retorna.
E você já pensou alguma vez que estivesse vivendo o sonho de alguém?
Rafael Rossi








Desertos de sal


Nesses tempos sombrios,
tudo o que triunfa é a morte.
Nesses dias de fúria,
toda esperança está num pouco de sorte.
Nesses anos de crise,
toda força é o inverso da coragem.
Nesses eventos convulsivos,
toda cólera se desfaz como miragem.

Rafael Rossi



Caminhos e Destinos

A morte é esquecimento
É fechar as cortinas do teatro
É encerrar este triste espetáculo
Morrer é como o apagar de uma estrela:
Um dia brilha e outro é tudo vácuo,
espaço, vazio, escuro e sozinho.
Viver é lutar contra o esquecimento
É a busca de um pouco da eternidade
Num filho, numa obra, na amizade
É a esperança na continuidade,
Na perpetuação de si mesmo
Pra além da morte, pra além da vida
Por que o sofrimento é parte da vida?
O sofrimento nos faz sentir a vida
O que é viver sem sofrer?
É morrer todo dia...
O valor da comida está na fome
E o valor da alegria está no sofrer
O valor da vida, que coisa sombria!
Está na morte, na dor, na casca da ferida!
Rafael Rossi

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