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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Rio de Janeiro, te declaro o meu amor!

Eu quase sempre tenho uma postura muito crítica e sou contra o ufanismo e o bairrismo, mas sempre vejo pessoas de outras cidades e estados exaltarem suas terras natais. Eu que sou carioca nascido no Rio sempre vi o Rio de Janeiro das contradições, da beleza e do caos, mas devo admitir que sempre enfatizei a parte do caos, sempre me incomodou o nosso modo malandro de resolver as coisas, essa mania de sempre dar uma de esperto ao invés de buscar a excelência e agir de forma ética; sempre me incomodou a desorganização da nossa cidade e a solução fascista que vez ou outra a burguesia carioca resolve dar para esse caos, impondo a ordem à força e não por meio da formação cidadã dos habitantes dessa bela cidade; sempre me incomodou uma relação promíscua entre os empresários e os políticos, mas também uma relação de toma lá dá cá que muitos da população mais pobre estabelecem com esses mesmos políticos. A maioria das pessoas que enfatiza os aspectos negativos do Rio tende a falar da violência; esse aspecto já me parece construído pela grande mídia. Pois vejamos, a capital do país com maior taxa de crimes violentos é Fortaleza, depois vem Maceió, em seguida São Luís e por aí vai, o Rio de Janeiro está entre as capitais com menor taxa de crimes violentos, na verdade, capitais como Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília são mais violentas que o Rio de Janeiro segundo as estatísticas. Enquanto Fortaleza tem 77 mortes a cada 100 mil, Porto Alegre 40 mortes a cada 100 mil, Salvador 48 mortes a cada 100 mil, Curitiba 32 mortes a cada 100 mil, Belo Horizonte 30 mortes a cada 100 mil, o Rio de Janeiro tem 20 mortes a cada 100 mil. Isso deixa claro que a propaganda negativa do Rio acerca da violência é política: ou serve para legitimar políticas fascistas de proibição de ida de jovens favelados às praias e a opressão policial nas comunidades carentes ou para deslegitimar perante a população governos progressistas como foi o de Brizola no Rio de Janeiro. Seja como for, as imagens de arrastões nas praias do Rio sempre foram uma interessante arma política para a Rede Globo e seus aliados no meio político.
Alguém poderia argumentar: "Ah, então você vai dizer que não existe violência no Rio de Janeiro?". Tem, e muita! Mas boa parte da nossa violência está relacionada ao crime organizado, ao tráfico de drogas, que tem relações com o tráfico internacional, e as milícias, compostas por policiais e ex-policiais, ou seja, agentes do Estado. Furtos e roubos ocorrem no país inteiro, mas essa paranoia da violência é enfatizada somente no Rio de Janeiro, e digo isso já tendo passado por experiências de assalto na rua e em ônibus, mas, sinceramente, duvido que escaparia disso em qualquer lugar do Brasil de hoje. O problema é que o neoliberalismo educou a nossa população num hedonismo, num consumismo e num individualismo que só ampliaram a alienação em relação ao outro, destruíram qualquer ética e romperam os laços de solidariedade que uniam o indivíduo à comunidade. Além desse problema ideológico e moral, há ainda a difusão desse modo de vida, desse modo de agir e pensar pela televisão e pela internet. A televisão é o instrumento de manipulação das massas dos grandes grupos econômicos e culturais e as redes sociais são o ambiente em que predominam o senso comum e o conservadorismo próprios da maioria da massa, fortalecendo as tendências reacionárias de pensamento e a construção de uma opinião pública despolitizada que esmaga o pensamento crítico e todo indivíduo divergente que tenta reagir a esse estado de coisas.
Os ataques midiáticos aos governos do PDT no Rio se devem ao fato de que o Rio de Janeiro foi um dos poucos estados do Brasil que experimentou uma longa permanência da esquerda no poder. Somente o Rio Grande do Sul e a capital Porto Alegre com os governos do PT e o estado do Rio de Janeiro e a cidade do Rio de Janeiro com os governos do PDT se mostraram estados e capitais de oposição à direita dominante antes da ascensão do governo Lula. Com todas as contradições e erros, ainda conseguiram esboçar projetos políticos em âmbito regional mais progressistas do que o PT foi capaz em âmbito nacional. O Rio Grande do Sul é um estado importante do país, mas é mais isolado e não exerce a influência política e cultural sobre a Nação que o estado do Rio de Janeiro exerce. A cidade do Rio de Janeiro, assim como São Paulo, é uma metrópole nacional, mas, embora São Paulo seja uma cidade mais rica, o Rio de Janeiro exerce uma influência internacional maior, será a cidade-sede das Olimpíadas de 2016, um dos eventos internacionais mais importantes do planeta, e é conhecida por suas belezas naturais e pelo seu Carnaval; o Cristo Redentor, que é o principal monumento daquela que é conhecida como a Cidade Maravilhosa, é uma das novas Sete Maravilhas do Mundo, o símbolo da cidade do Rio de Janeiro figura ao lado dos maiores monumentos do mundo. Se não bastasse isso, o Rio tem a maior rede municipal de ensino da América Latina, várias grandes universidades públicas, UFRJ, UERJ, UNIRIO, e tem outras grandes universidades bem próximas como a UFF em Niterói, muitos museus interessantes e importantes para a cultura nacional, como o Museu Nacional de Belas Artes, o Museu Nacional, o Museu Histórico Nacional e ainda abriga a Biblioteca Nacional. Infelizmente, a estupidez de nossos governantes não permitiu a expansão no número de bibliotecas públicas, havendo apenas 12 bibliotecas municipais nessa grande cidade. Outros símbolos culturais do Rio são o Circo Voador e o Sambódromo da Marquês de Sapucaí. É a cidade em que se pode ver o por-do-sol na pedra do Arpoador, andar na Lagoa e nadar e passear pelas praias do Recreio, da Barra, do Leme, de Copacabana, de Ipanema, do Leblon. Sim, é uma cidade bela, mas isso não é ainda o mais importante. Com todos os problemas da sociedade carioca, nós temos aqui uma sociedade aberta, pluralista e democrática, a maioria das pessoas procura praticar a gentileza (a estátua símbolo da nossa cidade é o Cristo, mas o profeta da nossa cidade é o Profeta Gentileza) e sempre se dispõe a dar uma informação, o que não é tão fácil de encontrar quando se viaja por aí, existe racismo, machismo, homofobia, mas em níveis bem menores do que se pode perceber em outros lugares do Brasil; aqui as pessoas se misturam mais: culturalmente e etnicamente. Eu que venho de uma família plural e democrática do ponto de vista étnico, religioso e político me identifico com essa sociedade, pois venho de uma família de ateus, agnósticos,católicos, evangélicos, candomblecistas, umbandistas e kardecistas, de militantes originalmente do PCB, que depois se dividiram entre o PPS e o PDT, e nas gerações seguintes formada de militantes do PT, do PSTU e do PSOL, tendo uma ideologia de esquerda, uma família de pintores, jornalistas, escritores, advogados, músicos, professores, pedagogos, funcionários públicos, profissionais da área de aviação, contadores, taxistas, atores, psicólogos, médicos, historiadores e cientistas sociais, com forte ligação com as artes e com as ciências humanas em sua maioria, uma família de italianos, indígenas, negros, portugueses, cariocas e mineiros, havendo enorme diversidade e essa diversidade eu trouxe para a minha experiência de vida: cantei em banda de rock, publiquei livros de contos, poesias e artigos, militei num partido revolucionário trotskista, fui vice-presidente de grêmio estudantil, diretor de DCE e de Centro Acadêmico e diretor do sindicato de profissionais de educação do Rio, além de ter mestrado em História e pós em Filosofia e ser professor de História. No decorrer de todas essas experiências, experimentei essa cidade, assim como a experimento agora como pai, apresentando-a ao meu filho. A cidade de Niterói foi o meu segundo lar, onde morei por um tempo e vivi as aventuras da juventude e me encontrei politicamente e intelectualmente, uma cidade que está unida à cidade do Rio de Janeiro. E é por tudo isso que declaro o meu amor ao Rio de Janeiro. Apesar de tudo, sou viciado nessa cidade, o meu lar!


Rafael Rossi