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terça-feira, 2 de outubro de 2018

BRASIL: ENTRE O RETROCESSO HISTÓRICO E A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA


BRASIL: ENTRE O RETROCESSO HISTÓRICO E A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA

            A radicalização do processo político no Brasil chegou ao seu ponto culminante: de um lado estão todas as forças democráticas, de esquerda, populares, reformistas e revolucionárias, marxistas, pós-modernas, progressistas, nacionalistas, desenvolvimentistas, das lutas contra as opressões e de outro está o fascismo na sua face mais bárbara, a última linha de defesa de um capitalismo dependente, decadente e de uma classe de capitalistas completamente subserviente ao imperialismo estadunidense.
            No início dos anos 2000, as democracias liberais entraram em crise junto com a crise do neoliberalismo. A direita tradicional foi varrida do poder em toda a América Latina. Governos nacionalistas e de Frente Popular chegaram ao poder ao mesmo tempo pela primeira vez desde o fim das ditaduras militares no continente. As massas de trabalhadores, estudantes, indígenas, camponeses e sem-terra colocaram os partidos burgueses tradicionais contra as cordas. Os velhos políticos da classe dominante foram obrigados a negociar com aqueles que antes tinham sido presos, espancados e torturados por eles, combatidos politicamente de todas as maneiras. A força da mobilização impôs uma enorme derrota à direita nos países mais importantes e mais ricos da América do Sul. O projeto imperialista da ALCA foi enterrado. Os trabalhadores latino-americanos podiam respirar aliviados, pelo menos momentaneamente, ao escaparem dos planos de escravização total da força de trabalho do continente pelos Estados Unidos da América. Mas para se manter no poder, essas forças progressistas que chegaram lá por revoluções como no Equador, insurreições como na Bolívia, e mobilizações de massas que culminaram numa vitória eleitoral humilhante para a direita como no Brasil, buscaram a conciliação de classes. No Brasil, esse projeto, capitaneado pelo PT, levou a que muitos de seus quadros se vissem envolvidos nas velhas práticas de corrupção da velha direita tradicional. Isso acabou abrindo um espaço político à esquerda dos grandes partidos de esquerda de massas, como o que ocorreu no Brasil, com a formação de uma nova central sindical, a CONLUTAS, que tem como sua direção majoritária um partido trotskista, o PSTU, e a formação de um novo partido anticapitalista, o PSOL. Num primeiro momento o que se viu foi uma esquerdização das massas, a tal ponto da terceira via em 2006 ser representada pela oposição de esquerda com a candidatura de Heloísa Helena à presidência da República pela Frente de Esquerda (PSOL-PSTU-PCB). O segundo mandato de Lula, o de maior estabilidade política e também o que lhe rendeu a maior popularidade da história como líder político, também preparou o caminho para o abismo. Os acordos com forças conservadores e fundamentalistas armava uma bomba relógio que explodiria em algum momento no futuro. A preservação desses setores e a permissão para que eles crescessem livremente como erva daninha levou à expansão de um reacionarismo em nossa cultura que desprezava até a velha cordialidade do brasileiro. O fundamentalismo religioso cresceu sob as asas da Frente Popular, com a aliança do PT com o PL/PRB, partido da Igreja Universal, e outros setores desse tipo.
            As conquistas sociais do governo Lula são inegáveis. Embora o bolsa família não seja o projeto Fome Zero esboçado na campanha de 2002, ele de fato garantiu o mínimo de dignidade à maioria da população, afinal, “quem tem fome tem pressa”, e eu acrescentaria: e quem nunca sentiu fome não pode julgar. A educação também teve avanços, como a expansão de bolsas de pesquisa, de vagas nas universidades, construção de escolas técnicas federais, mais verbas para a educação a partir do FUNDEB, embora não tenha sido um processo livre de contradições, basta ver a influência do movimento empresarial Todos pela Educação sobre os projetos desenvolvidos pelo MEC no segundo governo Lula, surgindo daí o Plano de Metas e o IDEB, por exemplo, claros ataques à autonomia docente. Além disso, o empresariado se favoreceu na educação e em outros setores das parcerias público-privadas, que encheram os bolsos do grande empresariado. Enquanto havia crescimento econômico, todos ganhavam uma parte, os mais ricos a maior fatia, e as contradições sociais permaneceram amortecidas. Mesmo com a crise capitalista mundial, o governo petista conseguiu administrar bem as contradições sociais, fazendo com que o Estado pagasse a conta dos grandes empresários, beneficiados com isenções fiscais e ajudas dos bancos estatais. Com a eleição de Dilma, o governo de Frente Popular assumiu um caráter mais bonapartista e menos conciliador. As alianças com a direita se ampliaram, mas as negociações com os representantes das classes empresarial e proletária foram reduzidas e substituídas por atos administrativos. As negociações com os movimentos sociais eram escassas. Os governos estaduais aliados, como o PMDB do Rio de Janeiro, reprimiam movimentos de trabalhadores sem que fossem censurados pelo governo federal. E o próprio governo federal intensificou o uso das Forças Armadas na segurança pública e mesmo na repressão a protestos. Em 2013, o governo que conseguia conter o movimento de massas e por isso era tolerado pela classe dominante, mostrou-se incapaz de conter as Jornadas de Junho. Esse era o início da tragédia.

JORNADAS DE JUNHO: AVANÇOS E CONTRADIÇÕES

            As Jornadas de Junho tiveram início com a juventude na luta contra o aumento das passagens de ônibus. O MPL (Movimento Passe Livre) foi a ponta de lança daquele movimento, ficando afastada, portanto, a hipótese de um protesto que teve um caráter fascista, manipulado e pró-imperialista desde o princípio. A cronologia dos fatos é importante. No dia 13 de junho a repressão aos protestos foi brutal. A Polícia Militar reprimiu os manifestantes no Rio de Janeiro e em São Paulo com uma truculência digna da ditadura militar. No dia 17 de junho de 2013 ocorreu a primeira grande manifestação democrática desde as Diretas. Cerca de 250 mil pessoas foram às ruas, 100 mil só no Rio de Janeiro. Emergiram várias demandas, várias bandeiras (embora muitos dos manifestantes impedissem que as bandeiras de partidos fossem levantadas, fato que seria habilmente usado pela classe dominante posteriormente), mas a maior delas foi contra a repressão. É como se os adultos tivessem acordado e tomassem as dores daqueles meninos que apanhavam do aparato repressivo de Estado, enquanto a geração adulta engordava no sofá de frente para a TV. O dia 17 de junho foi, antes de mais nada, um movimento de solidariedade, e isso é uma das coisas mais progressivas que podem existir. As grandes emissoras de TV não conseguiam forjar uma narrativa coerente para interpretar aqueles acontecimentos; os governos ficaram paralisados; as polícias foram neutralizadas. As massas se apropriavam das ruas e diziam para o Estado e a classe dominante que o domina que exigiam dignidade, direitos sociais e mais democracia. No dia 20 de junho, no entanto, a classe dominante já havia conseguido se rearticular e pela primeira vez os agentes do aparato repressivo atuaram abertamente junto com grupos nazifascistas para quebrar a coluna do movimento. A burguesia soltou seus cães da coleira e ordenou que caçassem os militantes de esquerda. As pautas do movimento começaram a ser impostas verticalmente pela Rede Globo e o sentimento antipartido foi alimentado na população pela grande mídia. Nesse quadro, o dia com o maior número de manifestantes nas ruas, mais de 1 milhão, também foi o da mais dura repressão para os movimentos sociais. A partir daquele dia, aquela enorme frente política que se forjou nas ruas, o partido das ruas, rachou e de um lado se situaram as forças de esquerda e de outro a extrema-direita. Ali a extrema-direita começou a disputar as ruas e a hegemonia política na sociedade brasileira. No entanto, a unidade do movimento, em especial com a paralisação nacional do dia 11 de julho de 2013 articulada pelas centrais sindicais, fez com que os atos dos movimentos de esquerda superassem os da extrema-direita, recuperando momentaneamente para a esquerda o monopólio das ruas. Surge em meio a esses protestos a figura do black bloc, expressão das novas formas de organização política dos jovens que não tinham mais na esquerda tradicional uma referência.

O NAUFRÁGIO DO GOLPE PARLAMENTAR: BRASIL NÃO É PARAGUAI

            Uma nova forma de golpe de Estado surgiu na segunda década dos anos 2000: o golpe parlamentar. Mantendo uma aparente legalidade, processos de impeachment absolutamente viciados cumprem o papel de tirar do poder dirigentes de esquerda e de centro-esquerda eleitos pela soberania popular nas urnas, para que a direita tradicional possa voltar ao poder, mesmo que pela porta dos fundos. Foi isso que aconteceu no Paraguai, quando da queda do presidente Fernando Lugo. Tentando reproduzir a fórmula de sucesso no Brasil, a direita liberal e conservadora viu que a sociedade brasileira possui um dos movimentos sindicais e populares mais poderosos do mundo. Tendo vencido Aécio por uma margem apertada de votos e perdendo popularidade rápido ao ceder ao mercado e iniciar a aplicação da política de ajuste fiscal, Dilma foi removida do poder sem razões suficientes para uma medida tão drástica e traumática. O roteiro era claro: colocava-se no poder um governo da direita e da centro-direita puro, que não tivesse que prestar contas aos movimentos sociais, para aplicar as medidas privatizantes e a retirada brutal de direitos sociais em ritmo acelerado. Mas no meio do caminho havia uma pedra. Se nas Jornadas de Junho o protagonismo principal foi dos jovens, na luta contra o governo Temer o movimento sindical foi decisivo. Foi a articulação política das centrais sindicais, CSP-CONLUTAS, CUT, CTB, Força Sindical e outras, que permitiu a realização da maior greve geral de nossa história: 100 anos depois da primeira greve geral no Brasil, a greve geral de 1917, no dia 28 de abril de 2017, ocorreu a maior greve geral da história do Brasil.

A GREVE GERAL DE ABRIL DE 2017 E A DERROTA DO GOVERNO TEMER

            A greve geral contou com a adesão de 40 milhões de pessoas e registrou paralisações em mais de 150 cidades, superando os números das grandes greves gerais da década de 1980. Para quem julgava o movimento sindical morto e o proletariado uma força social e política que pertencia ao passado, a greve geral de 28 de abril serviu para lembrar que aqueles que produzem a riqueza social não estão dispostos a ver suas condições de vida e trabalho reduzidas a níveis próximos daqueles experimentados pela classe trabalhadora no século XIX. O projeto de rapina do patrimônio nacional e de retirada brutal de direitos sociais contou com a forte oposição dos trabalhadores organizados, sindicalizados, muitos de orientação mais progressista e de esquerda, trabalhadores do serviço público e da iniciativa privada, a velha força política e social antagônica aos capitalistas. A contradição entre capital e trabalho se expressou num confronto aberto nas ruas e a polarização da luta de classes alcançou o seu auge. Como resultado desse movimento, a Reforma da Previdência do governo Temer foi enterrada. Temer também acabava de perder sua serventia para o mercado. Se uma governante socialdemocrata não pode segurar o movimento e nem um liberal, quem pode?

A BESTA DO FASCISMO GANHA UM ROSTO

            Como resposta à ineficiência de Michel Temer para aplicar os planos de saque dos recursos naturais e de superexploração da mão de obra brasileira, a classe dominante inventa Bolsonaro. Até então, um político folclórico e representante de um lumpesinato político e social, Bolsonaro é transformado pela burguesia no salvador da pátria. Ainda insegura com essa opção, a maior parte da classe dominante aposta no PSDB velho de guerra, o partido da direita preferido da alta burguesia, mas o governo Temer foi um desastre e todos que o integraram sofreram um enorme desgaste, e isso inclui os maiores partidos da direita tradicional brasileira: o PMDB e o PSDB. Sem alternativas e sem disposição para construir um novo pacto social que envolva um governo de conciliação de classes como no passado, a classe dominante resolve aderir ao fascismo. Se o preço a pagar para abocanhar maiores lucros é o sacrifício da democracia, que assim seja! E é com esse raciocínio que parcela significativa da classe dominante e dos burocratas do Estado, em especial das Forças Armadas, do Judiciário e do Ministério Público, vai com tudo para o caminho do golpe militar. Esse golpe pode ser dado com tanques nas ruas ou de forma gradual como já está acontecendo: generais tutelam o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo; o estado que demonstrou maior resistência ao projeto golpista, o Rio de Janeiro, sofre uma intervenção militar depois do Carnaval mais politizado em anos, com direito a protestos contra o governo Temer e a Reforma Trabalhista. E é apoiado por esses generais e pelos empresários mais lumpens da burguesia nacional que Bolsonaro chega ao primeiro lugar nas intenções de voto para a presidência da República.

#ELENÃO: O PROTAGONISMO DAS MULHERES

            As redes sociais eram o terreno que os fascistas dominavam. Robôs imperavam no Twitter. Fake News imperavam no Whatsapp. Páginas reacionárias de cunho fascista, racista, homofóbico e machista imperavam no Facebook. No entanto, diante do crescimento eleitoral e político de Bolsonaro e das ameaças dele e de seu vice, general Mourão, aos direitos das mulheres e da comunidade LGBT, surgiram grupos no Facebook contra o líder fascista, o maior deles foi o Mulheres unidas contra Bolsonaro, que mesmo sendo alvo de ataques cibernéticos de adeptos de Bolsonaro chegou a ter mais de 3 milhões de mulheres, e foi desse grupo do Facebook que partiu a organização da manifestação que levou centenas de milhares de pessoas em várias cidades do Brasil e do mundo a ir às ruas contra o machismo, o racismo, a homofobia e contra o fascismo. As pessoas superaram o medo depois de uma onda de ameaças e de agressões e tomaram as ruas e as mulheres foram a vanguarda desse movimento. Alguns dirão que isso deu mais munição ao fascista e emblocou a classe dominante contra os setores explorados e oprimidos, mas o contrário seria esperar sentados pela bondade dos carrascos. Uma coisa nada inteligente de se fazer. O movimento se politizou. Pessoas que não participavam da política foram às ruas contra o fascismo. As mulheres, o setor mais atacado pela chapa do golpe militar, foram maioria nos atos e sua liderança. O sujeito social que lidera essa nova onda de lutas são as mulheres.

O EMBRIÃO DE UM MOVIMENTO ANTIFASCISTA DE MASSAS

            Nós não controlamos o que pode sair dessas eleições. A esquerda e a centro-esquerda se dividiram em várias candidaturas. Talvez se fosse conformada uma chapa de centro-esquerda com Ciro Gomes e o PT a polarização tradicional com o PSDB e o bloco de centro-direita conformado pelos tucanos tivesse se afirmado e Bolsonaro fosse jogado para escanteio. Isso é possível e provável. Mas não parece que a nossa classe dominante esteja disposta a aceitar a derrota nas urnas depois de enveredar pelo caminho do golpe. O fato da esquerda e da centro-esquerda terem sido maioria nos atos do dia 29 de setembro influenciou bastante na escolha da grande mídia por embarcar na candidatura do fascista sem pudores. Alckmin esperava se apropriar do #ELENÃO e ganhar para si a adesão das mulheres contra Bolsonaro. Mas a maior manifestação de mulheres da história do país teve uma clara orientação progressista e mais à esquerda e isso os articuladores do golpe de 2016 não podem aceitar. Preferem ficar com os herdeiros políticos do torturador Ustra e do ditador Médici do que aceitar a soberania popular. Aliás, essa é uma virada interessante. A democracia que entrou em crise no início do século XXI pela aplicação do projeto econômico neoliberal sob a hegemonia política da direita, agora entra em crise por outro motivo: depois de séculos, a democracia volta a ameaçar os interesses da classe dominante. A burguesia perdeu a capacidade de dirigir a sociedade pelos mecanismos da democracia liberal. A guinada bonapartista de boa parte dos donos do poder parece indicar isso. Não podem mais tolerar a soberania popular porque ela se tornou de fato soberana. Nesse sentido, foi um acerto político encher as ruas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Salvador, de Belo Horizonte, de Nova Iorque, de Lisboa, de Paris contra a extrema-direita, contra o fascismo, forjando um movimento antifascista de massas nas redes sociais e nas ruas com ligações internacionais que servem de força e proteção. A maior manifestação política contra um candidato à presidência antes das eleições entrará para a História. E isso servirá para fortalecer as lutas futuras.

A DISPUTA ELEITORAL AINDA NÃO TERMINOU

            O crescimento em intenções de votos de Bolsonaro após as manifestações, solenemente ignoradas pela grande mídia brasileira e noticiada em detalhes pela imprensa internacional, pode ser expressão de um movimento verdadeiro ou não. Na verdade, não há como saber. Os institutos de pesquisa não são neutros e isso pode ser parte de uma guerra psicológica. Através das pesquisas, os donos do poder constroem profecias autorrealizadas, ou seja, apontando um determinado cenário provável, mas não certo, levam as pessoas a se dirigirem naquela direção. Pode ser essa a estratégia que está em curso, é o mais provável. De todo modo, a política de desconstrução de Bolsonaro e de ampliação de sua rejeição chegou ao limite. Nessa última semana, todos os esforços devem ser para ampliar as intenções de votos de Haddad no eleitorado lulista e de Ciro Gomes no eleitorado mais ao centro (não adianta apelos de voto útil a um e a outro, as candidaturas estão postas e estão no jogo) e de ir pra cima dos maiores colégios eleitorais – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – na reta final e de espremer tudo o que puder na região Nordeste. É o que é possível fazer. De outro lado, é importante nessa reta final divulgar mais as candidaturas ao Parlamento, para deputados estaduais, deputados federais e senadores. Há grandes chances de se eleger parlamentares do PSOL, PSB, PT, PDT e PCdoB em número significativo em meio a essa disputa política, à politização à esquerda nas redes sociais e nas ruas, e diante da crise do governo Temer e do desgaste dos partidos que o compuseram. Caso o pior aconteça e Bolsonaro se eleja, precisaremos de todos os pontos de resistência que pudermos para enfrentar a barbárie fascista.

DITADURA E BOLSONARO: ORDEM AUTORITÁRIA E VELHO OESTE

            A ditadura militar foi reacionária, promoveu assassinatos políticos e torturas, mas o Estado detinha, de certo modo, o monopólio da aplicação da barbárie. Bolsonaro é outro fenômeno, mais semelhante ao nazismo. O tipo de sujeito que se identifica com Bolsonaro não é exatamente um adepto da ordem, mas alguém que quer ter carta branca para xingar os negros, matar pobres, espancar mulheres e homossexuais. A política de distribuir armas para a população por um viés fascista é o contrário do monopólio das força pelo Estado, de uma concepção hobbesiana de um Estado forte para dominar os indivíduos que por si mesmos são lobos uns dos outros; é mais uma política de transformar o Brasil num Velho Oeste em que cada um que acerte as contas com quem lhe ofendeu, lhe agrediu, lhe roubou. Será o país da naturalização dos linchamentos. Quem espera maior segurança com Bolsonaro no poder está redondamente enganado; ele é um agente do caos e seus seguidores mais fiéis são um lumpesinato, a banda podre do aparato de segurança e os indivíduos mais violentos e sádicos da nossa sociedade civil, uma camada de psicopatas no seu nível mais grave, que estão apenas esperando um governo que lhes dê consentimento para agir de maneira brutal e antissocial sem o perigo de sofrer punição.

A RESISTÊNCIA VENCENDO O MEDO

            O assassinato político de Marielle foi um ensaio do que estava por vir. Mas os que cometeram aquele crime esperavam fazer muitos mais em tempo mais curto, mas a resistência foi gigante. O funeral de Marielle foi o maior ato político do ano de 2018 até o acontecimento do #ELENÃO e, com certeza, serviu para preparar nas consciências das mulheres, em especial das mulheres negras, os atos do dia 29 de setembro, dando-lhes a certeza de que se não derrotassem o inimigo, ele não seria gentil, não retribuiria o favor. A luta é dura, mas precisamos resistir. Prudência é mais que bem-vinda. Sabemos como eles agem e não podemos dar munição para o inimigo, afinal, está comprovado que setores autônomos em meio à greve dos caminhoneiros eram orientados por lideranças bolsonaristas via Whatsapp para criar instabilidade política e prejudicar a população, bem diferente de greves legítimas de trabalhadores que não se associam aos fascistas. Nas Jornadas de Junho foram abundantes os agentes infiltrados se fingindo de black blocs. Esses são os homens que riram da destruição do Museu Nacional pelas chamas porque odeiam a ciência, a cultura e a história. Esses são os homens que mataram Marielle mais uma vez ao difamá-la depois de morta. Não podemos esperar nada desses senhores. Por isso, temos que dizer bem alto que nós não temos senhores e que vai ter resistência.

Rafael Rossi