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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O Batman de Christopher Nolan: o herói contra "o bandido bom é bandido morto".

Pra quem não entendeu o Batman do Christopher Nolan, que era diferente do Batman do Tim Burton que era um psicopata justiceiro que enfrentava psicopatas criminosos numa cidade adoecida pela miséria e pela criminalidade, o Batman de Nolan era um vigilante que agia fora da lei para fazer cumprir a lei, diante da corrupção policial, mas em nenhum momento ele se iguala aos bandidos, apesar de sua brutalidade ele não mata. A principal oposição desse Batman não é entre ele e criminosos psicóticos como Coringa (aliás, o Coringa sobra na trilogia do Nolan, que quer discutir a noção de justiça e o medo como motor das ações humanas, nesse sentido o Duas Caras é mais central do que o Coringa no filme de Nolan, sendo o Coringa de Burton e Nicholson mais fiel ao personagem, mais louco e menos "filosófico"); a principal oposição desse Batman é com a Liga das Sombras, Ra's Al Ghul é como se fosse um Batman assassino, o que ele poderia se tornar, a sombra do Batman, seu lado obscuro, sua versão do mal. Contra o Bane o Batman diz: "Você foi expulso de uma gangue de psicopatas!". Essa era a sua opinião e a sua diferença em relação aos demais membros da Liga das Sombras, organização de justiceiros que o treinou, mas com a qual rompeu. O Batman de Christopher Nolan é contra "o bandido bom é bandido morto". 
No Batman de Nolan o inimigo principal nunca é o que enfrenta o Batman ao longo do filme. No primeiro filme, o inimigo do Batman é o Espantalho, mas no final se revela que o verdadeiro inimigo era Ra's Al Ghul e o Espantalho não passava de um fantoche. No início do filme Ra's e Bruce Wayne são amigos. Em O Cavaleiro das Trevas, o Coringa enfrenta o Batman, mas no final é a degeneração de Harvey Dent que ameaça tudo pelo que lutaram ele e o Comissário Gordon; no início do filme, Harvey é um promotor corajoso e honesto, aliado do Batman, e depois se torna o Duas Caras. No último filme, o terrorista Bane, o único que conseguiu fazer frente ao Batman no combate físico se revela no final um pau-mandado de Talia, filha de Ra's Al Ghul e amante de Bruce Wayne. Então, o verdadeiro inimigo sempre se revela no final. Os inimigos que enfrentam o Batman durante o filme representam o medo: o Espantalho (uma figura arquetípica do medo), o Coringa (um palhaço assassino) e Bane (um terrorista). E os inimigos que se revelam no final representam uma visão distorcida de justiça: Ra's Al Ghul (a justiça do "olho por olho, dente por dente"), Duas Caras (a justiça como fruto do acaso, sendo decidida na sorte) e Talia (a justiça como vingança). E o Batman representa a justiça verdadeira, aquela que não pode ser manipulada pela lei a serviço dos poderosos e corruptos e nem aquela que é própria dos justiceiros que agem como juízes e executores, ele é um vigilante que cuida do povo de Gotham, um protetor, e um herói que transita entre a figura do herói e do anti-herói, o que o identifica com a Mulher-Gato, uma anti-heroína que namora com a figura da heroína, e assim como Sherlock Holmes o Batman faz par romântico com uma ladra, o que mostra a atração dele pela emoção desse mundo, cujos crimes ele combate.


Rafael Rossi

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

SEGUINDO EM FRENTE



O amor é um raio de esperança
nesse cemitério dos vivos
O amor é um raio de esperança
nessa terra de almas mortas
O amor é um raio de esperança
nessa cidade de sombras caminhantes.

A coragem é um raio de luz
que brilha até amanhã
A coragem é um raio de luz
que faz nascer o sol do amanhã
A coragem é um raio de luz
que ilumina nesse reino de trevas.

A vontade é o fogo que arde
mesmo quando tudo é escuridão
A vontade é o fogo que arde
quando o frio congela até mesmo os corações
A vontade é o fogo que arde
quando o mundo é um inferno de medo e dor.

Amor para esperançar pelo melhor do mundo
Coragem para iluminar os caminhos da vida
Vontade para queimar as barreiras à felicidade.

Que haja amor pra regar o solo onde brota o pão
Que haja coragem pra se dar o grito de liberdade
Que haja vontade pra seguir sempre em frente.



Rafael Rossi



terça-feira, 11 de julho de 2017

Poema publicado no Jornal Novidades edição Fevereiro2017: Arthur

Fevereiro | 2017 | Ano VIII – Edição 92 – Arthur

Sem títuloArthur

Quando o seu coração bateu,
o meu bateu mais forte.
Quando ouvi o seu coração pela primeira vez,
o meu coração se encheu de alegria.
O nosso primeiro encontro foi amor à primeira vista.
Eu falei com você e você reconheceu minha voz.
Meu bebê, meu amor.
O fruto do amor mais puro e verdadeiro.
Já veio ao mundo irradiando alegria.
E quando você sorri, tudo se ilumina.
Sempre oferece um sorriso para alegrar
aqueles que já se acostumaram a não viver
toda a beleza da vida.
Você se aventura sem medo,
mas quando sente medo me abraça.
Se preciso, você chora.
E não aceita menos do que o que deseja.
Mas aceita o carinho de quem ama.
E até faz o choro virar riso;
basta uma brincadeira ou um colo
de quem te ama desde que você era só um coração.
E quando eu canto pra você,
você se acalma e sonha.
E como o Sol todo dia você acorda
com a luz do seu sorriso
convidando quem estiver perto de você a brincar.
Rafael Rossi
http://bloghistorialiteraturaeumcafe.
blogspot.com.br/

sábado, 29 de abril de 2017

GREVE GERAL DO DIA 28 DE ABRIL

   A Greve Geral de 28 de abril de 2017 ocorre 100 anos depois da primeira Greve Geral no Brasil. A Greve Geral de 1917 foi deflagrada pela classe trabalhadora organizada para que os trabalhadores conquistassem boa parte dos direitos trabalhistas que agora estão sendo revogados pelo governo Temer e o Congresso Nacional formado por corruptos, fundamentalistas e fascistas em sua maioria.
   A CSP-CONLUTAS, que desde o início tem levantado a bandeira da necessidade de uma greve geral no Brasil para derrotar as reformas neoliberais do governo do PMDB, fez em sua campanha um resgate do histórico de greves gerais da classe trabalhadora brasileira. Em 1917 a paralisação durou 31 dias e os estados mais afetados foram São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Mas foi na década de 1980 o auge do movimento grevista brasileiro, contando com três greves gerais, em 1983, 1986 e 1989. A Greve Geral de 1989 foi de 48 horas, em 14 e 15 de março, e era a maior greve geral da nossa história até hoje, com a paralisação de 35 milhões de trabalhadores de suas atividades. Na década de 1990 ocorreram mais duas greves gerais, uma de 48 horas em 1991, nos dias 22 e 23 de maio, e uma greve geral em 1996 no dia 21 de junho.
   Segundo o site do jornal Brasil de Fato, a Greve Geral de 28 de abril de 2017 foi a maior greve geral da história do país, contando com a adesão de 40 milhões de trabalhadores, que paralisaram suas atividades. A fonte do Brasil de Fato foi a Frente Brasil Popular, um dos movimentos que convocaram a greve geral.
   Esse processo não foi um raio em céu azul. Antes do dia 28 de abril, o movimento dos trabalhadores já havia ensaiado uma paralisação nacional no dia 15 de março de 2017. O ponto alto do dia 15 de março foi a Greve Geral Nacional da Educação convocada pela CNTE, que paralisou escolas das redes pública e privada, escolas particulares, escolas municipais, escolas estaduais e escolas federais, sendo os profissionais de educação o setor que protagonizou aquele processo, dando corpo à paralisação nacional dos trabalhadores. O Dia Nacional de Paralisação do dia 15 de março contra a Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhista mobilizou 40 mil pessoas em Recife, 18 mil pessoas em Porto Alegre e vários outros atos em várias capitais com milhares de trabalhadores, segundo o site da CUT. Mesmo esse formato de Dia Nacional de Paralisação convocado em unidade por todas as centrais não se iniciou agora na luta contra as Reformas da Previdência e Trabalhista do governo golpista de Temer, do PMDB e do PSDB. É possível resgatar no site do PSTU o balanço de um ato nesse formato realizado depois das Jornadas de Junho de 2013, que naquele momento cumpriu um papel decisivo na disputa pela direção do movimento de massas com a extrema-direita que ainda não tinha a força que tem hoje com o crescimento da candidatura de Bolsonaro. No dia 11 de julho de 2013 as oito Centrais Sindicais (CSP-CONLUTAS, CUT, Força Sindical, UGT, CGTB, NCST, CTB e CSB) realizaram o Dia Nacional de Greves, Paralisações e Manifestações. Foram registrados bloqueios de estradas, paralisações e manifestações em 23 estados. Já naquele momento a CSP-CONLUTAS defendia a necessidade de uma greve geral no país e sendo o ano de 2013 o de maior ascenso nas lutas no Brasil nesse início de século isso seria plenamente possível se boa parte do movimento sindical não estivesse atrelado ao governo Dilma e tentasse poupá-lo de qualquer crise que se agravasse com um processo de radicalização das lutas. Trotsky, polemizando com os socialistas que advogavam das teses dos movimentos espontâneos das massas, defendia que todo movimento de massas tem uma direção e analisando a Revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia e a ausência de qualquer partido socialista no cumprimento do papel de direção política do processo dizia que a direção daquela revolução era a vanguarda educada nas palavras de ordem bolcheviques no período anterior. Para Trotsky, a direção daquele processo revolucionário foram "os operários conscientes e bem temperados e sobretudo os que se formaram na escola do partido de Lênin". Nesse sentido, não cumpriram um papel menor o PSTU e a CSP-CONLUTAS  na construção dessa greve geral ao fazer dessa palavra de ordem uma verdadeira obsessão, até ironizada como um fetiche trotskista por militantes de outras correntes políticas e ideológicas. Além disso, os militantes do PSOL que foram a vanguarda dos piquetes da greve geral foram no passado ou do PSTU ou da Convergência Socialista, sendo a educação militante um fator fundamental independente do caminho que resolva seguir em cada conjuntura. Mas é preciso dar o devido crédito aos militantes do PSOL, em especial do NOS e da CST, que cumpriram um papel heroico nas Barcas e na Rodoviária Novo Rio, fazendo com que a greve geral se tornasse uma realidade no Rio de Janeiro, enfrentando a repressão policial e até trabalhadores fura-greve. A heroína da nossa greve geral no Rio de Janeiro foi a militante Tatianny, que aproveitou o espaço no SBT Rio para defender as pautas da greve e denunciar a repressão policial que o movimento tinha acabado de sofrer.
   Acompanhando pelo Facebook a greve geral era possível constatar que o que prevaleceu foi a combatividade dos ativistas da greve e a brutal repressão policial. Num momento em que o Estado brasileiro e estados como o Rio de Janeiro alegam crise na segurança pública não faltaram policiais e bombas para manifestantes que exerciam o seu direito constitucional de greve e de manifestação. A máscara democrática da burguesia caiu e o caráter bonapartista do governo golpista de Temer, nascido de um golpe parlamentar com o apoio do Judiciário e da grande mídia, apareceu para todos que tiveram acesso aos relatos dos ativistas perseguidos pelas ruas do Centro do Rio pela PM.
   Por último, a maior greve geral realizada pela classe trabalhadora brasileira só foi possível porque se construiu uma frente única, uma unidade para lutar, que ia desde a Força Sindical comandada pelo pelego Paulinho da Força até os black blocs e outras tendências ultra-esquerdistas. Foi a unidade de todas as correntes políticas dos movimentos sindical, estudantil e popular que possibilitou que a classe trabalhadora organizada e a juventude travassem a maior batalha de suas vidas no início deste século XXI. E para aqueles que acreditam que isso fortalece o Lula para 2018, na verdade, só amplia a polarização política e fortalece a esquerda radical, que pode se tornar uma alternativa eleitoral em 2018 àqueles que se radicalizam e impedir o crescimento eleitoral do fascista Bolsonaro. Assim como Jean-Luc Mélenchon ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais francesas de 2017, nada garante que Lula será a grande alternativa de esquerda no ano que vem e nada justifica que aqueles que até ontem estavam na oposição de esquerda se rendam ao caminho fácil de retorno à política de conciliação de classes, cujo esgotamento nos levou à crise política atual em primeiro lugar. Se essa greve geral irá barrar a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência no Congresso Nacional isso dependerá se ela será só um evento ou se desdobrará em uma onda de paralisações, greves e ocupações em várias categorias.


Rafael Rossi

sábado, 4 de março de 2017

33 ANOS E VÁRIAS VIDAS NUMA SÓ: CORRENDO CONTRA O TEMPO

O balanço da minha vida pela chegada de mais um aniversário veio mais cedo porque meu aniversário vai cair numa segunda-feira, dia de trabalho. No ano passado dei como título para o texto de balanço dessa minha caminhada "Duas vezes dezesseis: a vida como um ato de vontade" e de fato tem sido minha vida um ato de vontade, fui abrindo os caminhos levado pelo meu desejo e sustentei meus projetos com minha força de vontade, mas parece que a mão do destino também soube cair pesada sobre cada coisa que abracei. Dos meus 13 aos meus 20 anos me dediquei à construção do projeto coletivo Estado Independente, banda de rock que formei junto com meu irmão e meus amigos da rua onde cresci; eu escrevia a maioria das letras e era o vocalista, mas o baterista resolveu sair e depois não conseguimos tocar o projeto pra frente. Então, dos meus 20 aos meus 27 anos me dediquei à militância revolucionária num partido trotskista, o PSTU, e mais uma vez apostei num projeto coletivo. Assim como a banda foi importante para que florescesse minha poesia, minha capacidade de liderança foi em grande parte desenvolvida nessa experiência no PSTU. Mas depois de várias divergências políticas, que expressei em documentos publicados em congressos e conferência nacional do partido e depois que sofri uma prisão política numa manifestação e respondi um processo junto com outros companheiros por essa farsa policial e do governo do Rio, diante da incapacidade do partido de reconhecer os erros políticos que envolviam a segurança desse ato, escolhi a vida, vi que precisava seguir outro caminho. Tempos atrás uma crise de ansiedade me levou a fazer terapia por 3 meses, em grande parte motivada pela crise que eu tinha com minha profissão, pois a realidade da sala de aula contrastava com minhas expectativas, tendo a partir dali definido como projeto pessoal investir na carreira de escritor. Nesse processo que eu vivi em 2011, tive outra crise de ansiedade que me levou ao hospital com dor no peito. Ali eu vi que tinha que mudar minha vida. Alguns anos antes, uma convulsão enterrou minhas esperanças de abandonar a medicação para a epilepsia, doença que sempre me deixou mal pelo preconceito em relação a todas as doenças neurológicas e psiquiátricas existente em nossa sociedade. Além disso, ter uma doença neurológica significa ter limitações e eu não tolero limites e tento sempre alargar meu campo de possibilidades, ampliar os meus limites, mesmo que custe muitas vezes minha saúde. Esse desvio de rota que fiz em minha vida não sei se significou deixar de realizar toda a minha potência nessa vida, mas me permitiu me abrigar numa ilha de felicidade nesse mundo marcado pela infelicidade e aos 30 anos eu me tornei pai.
Segui nesses anos vários caminhos e realizei várias coisas ao mesmo tempo. Fui vice-presidente do grêmio do CEI de Quintino/FAETEC na adolescência, diretor do CA de História da UFF e do DCE-UFF na militância estudantil universitária e coordenador-geral do SEPE Regional 2 ainda no início da minha carreira de docente da educação básica no Rio de Janeiro. Fui representante de turma no segundo grau e representante estudantil no Departamento de História e conselheiro universitário na universidade e exerci papel de liderança em cada lugar que passei. Mas ao mesmo tempo fui tocando outras coisas. Fiz graduação em Bacharelado e Licenciatura em História na UFF, iniciando em 2003 e concluindo em 2008, e fiz mestrado em História Social Antiga na UFF de 2009 a 2011 com orientação do professor Ciro Flamarion, um verdadeiro mestre que passou pela minha vida e que conheci ainda no primeiro período quando tive com o Ciro a disciplina de História Antiga e depois disso ele foi meu orientador na monografia de graduação e na dissertação de mestrado e no grupo de pesquisa CEIA-UFF; eu  fiz também especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro em 2013; agora estou fazendo um mestrado profissional em Ensino de História pelo PROFHISTÓRIA, iniciado em 2016. Resolvi fazer esse novo mestrado porque senti a necessidade de me capacitar mais para o trabalho que efetivamente exerço que é o de professor da educação básica. Pretendo com isso melhorar minhas aulas dentro do possível nesse sistema e torná-las mais agradáveis para mim e para os alunos, algo importante já que tenho uma carreira no magistério, sou funcionário público e não é possível fazer de má vontade a mesma coisa todos os dias por 30 anos. Mesmo sendo o trabalho docente extremamente alienado nas condições atuais, devemos fazer tudo ao nosso alcance enquanto sujeitos para tornar nossa prática e nossa vida melhor. Sou professor de História da Prefeitura do Rio de Janeiro e professor de História da Prefeitura de Itaguaí; estou desde 2012 em Itaguaí e desde 2008 no Rio, já são 9 anos como professor do ensino fundamental, trabalhando com crianças e adolescentes do sexto ao nono ano. A escola em que trabalhei por mais tempo foi a Escola Municipal Mário Piragibe, onde trabalhei por 8 anos. Nunca me esquecerei da minha experiência e aprendizado nessa que foi minha primeira escola e de todas as pessoas que me acompanharam nessa trajetória, tanto alunos, alguns até amigos hoje, quanto colegas de trabalho, alguns deles amigos próximos. Um professor que marcou minha vida como estudante foi o professor Luiz Fernandes, de Sociologia, na FAETEC, que veio a se tornar um amigo mais tarde, ele era um professor militante e que sempre se preocupava em despertar em seus alunos o espírito crítico. Sem dúvida, é uma referência pra mim como prática docente na educação básica. Atualmente, tenho tentado resgatar até mesmo minhas referências de infância para trazer para a sala de aula e para a prática educativa como a contação de histórias que me marcou nos anos em que assistia o programa Canta-Conto da Bia Bedran. Eu também publiquei livros, poemas e artigos. Publiquei pelo site Clube de Autores os livros Poemas de Pedra e de Rosas, Estado Independente, Escritos Políticos, Espírito Punk: Xerox do Blog, Toda Poesia, Queda Livre - Tudo aquilo que ficou para trás e Poesia e Revolução. Publiquei depois pela editora Multifoco os livros Depois da Meia-Noite, À Flor da Pele e Luta de Classes na Antiguidade. Foram ao todo 10 livros. Publiquei também um artigo na Revista História e Luta de Classes em 2013: "O 'Príncipe Tirano' e a 'Democracia Militar' no projeto de construção de um Império Universal de Alexandre, O Grande e de Júlio César". No Jornal Novidades, do Méier e Grande Méier, publiquei os poemas "Portas" em março de 2016 e "Arthur" em fevereiro de 2017. Fui incansável nesses anos todos, tentando fazer realmente da minha vida um ato de vontade e correndo contra o tempo, como se tudo de vida que eu tivesse para despejar no mundo não contasse com a generosidade do tempo para se tornar efetivo, para ganhar materialidade, e eu tivesse que acelerar para conseguir colocar no mundo tudo o que tenho dentro do peito e da cabeça. Esse foi o sentimento que me impulsionou todo esse tempo, além da necessidade de provar o meu valor, de me superar, de testar minhas forças na realidade e de conquistar o meu lugar, motivado por esse desejo de eternidade que move os melhores homens. E sempre tentando conciliar isso com uma existência ética, buscando a virtude, o caminho da razão, da liberdade e do bem.
Acredito, sinceramente, que sigo as melhores tradições da minha família. Venho de uma família plural e democrática, uma família de ateus, agnósticos, católicos, evangélicos, candomblecistas, umbandistas e kardecistas, de italianos, indígenas, negros, portugueses, cariocas e mineiros, uma família de jornalistas, pintores, professores, músicos, historiadores, cientistas sociais e uma família com tradição de luta e de militância de esquerda, com muitos militantes originalmente do PCB que depois se dividiram entre o PPS e o PDT, e na minha geração com militantes do PT, do PSOL e do PSTU. A minha militância de esquerda, revolucionária, confirma a regra dos melhores legados da minha família, não é a exceção. Talvez eu tenha sido o mais radical em termos programáticos, mas a galera da "velha guarda"  merece respeito por sua militância na época da ditadura. Meus tio-avós, Maurício Azedo e Aparecida Azedo, que tive o prazer de conhecer, tiveram um papel destacado na sociedade brasileira, no jornalismo e na arte, respectivamente, e ambos na política. Os quadros de arte naif da Aparecida estavam expostos no MIAN e sempre levamos o Arthur para ver seus quadros e participar dos projetos do museu como o NAIF para nenéns. O meu ateísmo também é produto desse ambiente democrático em que pude optar por não fazer primeira comunhão. Apesar de todas as discussões com minha mãe na infância e na adolescência, o direito de não ter religião eu tive. E vou levar isso pra frente. Meu filho conhecerá esse legado e essas experiências e poderá fazer escolhas conscientes, cultivando as asas que vai precisar para voar e ir o mais alto que puder mas com raízes profundas nos melhores sonhos dos que vieram antes dele. Será livre como indivíduo, mas não deixaremos, nem eu nem a mãe, de projetar nossos melhores sonhos nessa vida que trouxemos ao mundo para fazer a diferença, assim como nós sempre fizemos. E poderá, como portador de tantas esperanças de futuro, escolher o seu melhor caminho, confiante em suas próprias forças. E é esse momento que eu vivo, o momento de cultivar a vida e o futuro para além de mim mesmo, como professor e pai. E tenho para me fortalecer todos os dias esse amor que me aquece há mais de 16 anos, 17 anos esse ano, com namoro, noivado e casamento, com minha companheira, Pâmela, com quem comecei a morar junto em Niterói, ainda na faculdade, e que agora vive comigo o dia a dia com nosso filho, Arthur.
Foram vários caminhos paralelos que se cruzavam em alguns momentos e tudo ao mesmo tempo, tentando vencer o tempo, esse trapaceiro. Não sei se o meu destino estava naquilo que morreu ou que eu abandonei ou se ainda está por vir, por se revelar, nem sei se o meu destino é justamente viver a vida com essa intensidade e diversidade, levando alegria por onde passo, eu que nasci numa terça-feira de Carnaval e já cheguei ao mundo em dia de festa, e força, criatividade e espírito de luta, eu que nasci com o sol em Peixes e na casa 11 (de Aquário), ascendente em Touro, lua em Áries e meio-do-céu em Aquário, o pisciano mais aquariano que existe e com a persistência taurina e as emoções intensas de Áries. Pai de um garoto de Gêmeos com ascendente em Sagitário e marido de outra pisciana. Que trago várias marcas, da genética, do meio sociocultural, da classe social, da experiência e da vivência pessoal e até do simbolismo astrológico. Tudo isso é quem sou e a imagem de quem sou. Eu que cresci no Campinho, filho de uma família de classe média baixa, e que agora moro no Méier, outro bairro do subúrbio do Rio. Que cresci com Carnaval na porta de casa na Intendente Magalhães. Eu trago toda essa energia comigo. Vou seguir com a minha força de vontade abrindo os caminhos para uma vida plena, mas vou correr menos contra o tempo, tentarei seguir concentrado no aqui e no agora, mas movido por um projeto de futuro e acelerando de vez quando for necessário. Até porque esse é quem sou, eu preciso fazer várias coisas ao mesmo tempo e gastar minhas energias, me ajuda a manter minha sanidade, afinal, que chata deve ser a vida em que os dias se repetem de forma tediosa?

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Flash: Rápido o bastante

   A série Flash vem revolucionando o universo dos super-heróis. Heróis da DC como Superman e Batman já estão envelhecidos. O Superman reflete uma perspectiva totalmente propagandística, o herói nacional dos Estados Unidos, representante de seus valores e de sua potência, muito adequado ao período de disputa política e ideológica do entreguerras, da Segunda Guerra e  da Guerra Fria, mas totalmente deslocado num mundo globalizado e de relativismo pós-moderno. O Batman é um anti-herói, luta motivado pela vingança pela morte dos seus pais, e combate o crime gerado por um ambiente de miséria e desigualdade da cidade de Gotham que ele como bilionário ajuda a criar. Fez muito sucesso nos anos 90, auge do neoliberalismo e da lógica individualista e punitivista que a figura do justiceiro representava. Já o Flash é um jovem nerd, que ama a família e os amigos e que está sempre disposto a se sacrificar, é o equivalente do Homem-Aranha da Marvel no universo DC. É um herói necessário nesses tempos de crescimento do fascismo no mundo e do sadismo que serve  de combustível a essas psicoses coletivas que assumem a forma política.
   O episódio "Rápido o bastante" da primeira temporada é o desfecho da história que tem início com o assassinato de sua mãe pelo seu maior inimigo, o Flash Reverso. O Reverso propõe a Barry Allen que ele volte no tempo e salve sua mãe e crie as condições para que ele, Reverso, possa voltar pra casa, mais de 100 anos no futuro, criando um portal no espaço-tempo, um buraco de minhoca. O Flash viaja no tempo para salvar sua mãe, mas o seu eu mais velho, o Flash do futuro, que salva o Barry criança de ser morto pelo Flash Reverso, lhe diz para não mudar a história. Então, Barry não impede o assassinato de sua mãe, se despede dela e volta para o presente para impedir o Flash Reverso de concretizar seus planos. Esse episódio resume toda a série, os eventos passados e os eventos futuros. É a partir do buraco negro criado pela viagem no tempo do Flash que se abrem passagens para outros universos, para infinitas Terras. O buraco negro é fechado, mas as passagens para outro universo paralelo não. No curso de uma nova luta, Barry fica preso na Força de Aceleração, num dos melhores episódios da série, na segunda temporada, "O Fugitivo Dinossauro", e a Força de Aceleração, que deu ao Barry seus poderes, lhe diz que ele é o Flash, que só ele pode proteger o Multiverso do mal e que ele não é um deus e que nem ele pode impedir as tragédias da vida. Ele retorna e vence mais um desafio e mais um inimigo, mas ao perder o pai e a mãe assassinados, ele volta no tempo e decide salvar sua mãe, buscando uma vida feliz. Isso culmina no primeiro episódio da terceira temporada, o "Flashpoint", história que marcou os quadrinhos e rendeu uma animação da Liga da Justiça. Mas as repercussões negativas do Ponto de Ignição, da nova linha temporal criada pelo Flash, o fez retornar ao passado e restaurar os acontecimentos como haviam se dado antes com a morte de sua mãe. No entanto, o presente não estava o mesmo, porque alterar o passado fez com que mudanças ocorressem, mesmo impedindo a modificação daquele primeiro evento, criando-se assim outra realidade alternativa. Nesse caso, diferente de "Superman: o filme", em que o Super-Homem salva Lois Lane, mudando o curso da história humana e contrariando a interdição imposta pelo seu pai kriptoniano para que ele não agisse como um deus, sem que haja maiores consequências, as ações do Flash têm consequências. Aliás, todas as decisões e ações dele na série têm consequências, como o "Grandes poderes, grandes responsabilidades" do Homem-Aranha. O que motiva o Flash não é a vingança nem a luta por uma verdade e justiça abstratas, mas a responsabilidade pelos seus grandes poderes, que lhe foram concedidos com um propósito, e a culpa por cada um dos seus atos, por tudo aquilo que faz e deixa de fazer, porque mesmo sabendo que não é um deus, ele não pode evitar, porque é um herói que se importa com as pessoas. Um belo modelo para os dias de hoje.
   O Flash é rápido o bastante. Com sua supervelocidade ultrapassa a velocidade do som. E  protege as pessoas. Trabalha em equipe. E está sempre disposto a se sacrificar pelos outros, pelo que é certo, por um bem  maior. Que bom que a televisão ainda  é capaz de produzir e transmitir isso e que um programa desses possa dar audiência em meio a tantos entretenimentos sádicos e perversos na TV que contribuem para degradar a alma das pessoas. Então,corre, Barry, corre!