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sábado, 19 de março de 2016

O perigo da ascensão do fascismo no Brasil

O conservador e o fascista não são a mesma coisa.O conservador tem uma moral, uma moral arcaica, mas de qualquer modo tem certos princípios e até mesmo consideração pelas pessoas (mesmo que não respeite seus valores e comportamentos mais livres e progressistas); é o caso de um religioso, por exemplo, que tenha ideias antiquadas, mas que acredita na compaixão e na solidariedade. O fascista é algo bem diferente. O conservador pode agir com violência, mas é um ato excepcional. O fascista é sádico, paranoico e narcisista, ele sente prazer em causar dor no outro, principalmente naquele que ele demoniza, o objeto de projeção dos seus medos, preconceitos e vícios. O fundamentalista religioso, apesar de se basear em valores e ideias conservadoras, parece ter um modo de agir muito mais parecido com o do fascista. O conservador enxerga a vida pela ótica do senso comum e se baseia nas tradições. A classe média, a classe social que mais fornece quadros políticos, intelectuais e administrativos tanto para a burguesia, a classe dominante, a classe dos capitalistas, quanto para o proletariado e suas organizações, também é, enquanto classe, a mais frágil de todas, a mais sem perspectiva histórica e de futuro, a que mais luta pela conservação do seu modo de vida, a mais conservadora de todas. A burguesia é progressista e revolucionária no campo da economia e do desenvolvimento técnico, elevando o grau de riqueza e o nível tecnológico das sociedades contemporâneas, mesmo que seja conservadora no campo da política. Os setores mais pobres da classe trabalhadora lutam para modificar o seu modo de vida, por dentro do sistema ou contra ele, portanto, tende a ser mais abertos a opções políticas que proponham uma melhoria (mudança) no seu modo de vida. Também há uma diferença entre aqueles elementos da classe trabalhadora que desempenham o seu trabalho de forma coletiva ou que façam parte de categorias organizadas politicamente e de massa e os elementos da classe que desempenham o seu trabalho de forma individualizada, de forma autônoma, etc; estes últimos tendem a posições mais conservadoras, mais próximas do senso comum do que aqueles que pertencem a categorias que fazem greves, tem seus planos de carreira e para as quais os interesses individuais e os interesses coletivos se misturam, são interdependentes. Em momentos de crise política, econômica e social, elementos de classe média, especialmente pequeno-burgueses, pequenos proprietários, ou os filhos dessa pequena burguesia, essa massa ociosa que é parte da juventude de classe média, passam a se comportar como o lumpesinato, como marginais, como a ralé. Aquelas características e atitudes que geralmente são próprias de indivíduos de grupos sociais excluídos e brutalizados pela ausência completa de serviços públicos decentes, emprego e renda, isto é, pela ausência de civilização, passam a ser encontradas em setores de classe média também, geralmente em indivíduos menos intelectualizados (o que não quer dizer de baixa escolaridade, podem ser mão de obra qualificada e não ter o mínimo de refinamento intelectual, sendo destituídos dos valores humanistas que fundaram a moderna civilização ocidental, por mais que esses valores possam, muitas vezes, entrar em contradição com a prática daqueles que dominam a nossa sociedade). Esse fenômeno está se manifestando hoje com fascistas atacando verbalmente ou fisicamente, de forma individual ou organizada, aqueles que mal ou bem ainda representam a tradição iluminista na política e nas atividades intelectuais, assim como aqueles que representam os valores democráticos da igualdade e da pluralidade. O avanço desse processo constitui um fato grave. Um fascista não é uma pessoa respeitadora das regras sociais, que acredita num contrato social, como um conservador de direita ou um progressista de esquerda. A extrema-direita é reacionária, irracionalista, sádica e os elementos que ela mobiliza são altamente narcisistas e autoritários. O apoio passivo de uma massa ignorante a um setor minoritário mas ativo das massas, a massa fascista, pode mergulhar o Brasil numa situação de terra sem lei. Como revolucionário, não tenho nenhum apreço pela institucionalidade burguesa, mesmo o chamado Estado Democrático de Direito, que é mais uma das formas de dominação social dos capitalistas sobre os trabalhadores, mas, na medida em que não existe nenhuma possibilidade de revolução socialista num futuro próximo, a república democrática burguesa é o melhor regime político para a livre organização dos trabalhadores na defesa de seus interesses imediatos e históricos. Os fascistas também costumam dar sustentação a regimes políticos dominados por tecnocratas, especialistas que exercem suas funções conforme lhes é ordenado, que só cumprem ordens, sem maiores considerações éticas, sem fazer exame de consciência, e que gerenciam o Estado e a sociedade de modo a tornar toda a vida humana administrada e vigiada, seja no espaço público seja na intimidade. O comportamento lumpen da massa fascista e a atitude fria e alienada do tecnocrata são a própria face do terror totalitário. Uma sociedade como a nossa que, na vida social, está à beira da ruptura do tecido social, com vários elementos de barbárie crescendo a cada dia, e que, na vida política, vive um equilíbrio catastrófico entre duas forças políticas equivalentes, dois campos burocráticos que arrastam o conjunto da sociedade para o abismo numa disputa sem lei e sem limites pelo aparato de Estado, corre um sério risco com a ascensão dessa horda fascista. A turba que sai às ruas clamando por justiça a qualquer preço é formada pelos setores de classe média mais despolitizados da sociedade e que até ontem odiavam política; é a ascensão dos apolíticos na política, mas não se politizando, e sim atuando no sentido da desqualificação da política e do combate à ação política consciente e organizada. A opinião pública despolitizada criada pelas grandes emissoras de televisão ganha corpo com as redes sociais e passa a ter um papel ativo com a internet no sentido de atacar a já diminuta opinião pública politizada, educada no debate público democrático e racional a partir de instituições políticas, culturais e sociais, como partidos políticos, movimentos sociais, entidades estudantis, sindicatos, universidades. Esse é o quadro social grave que vivemos hoje.

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