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segunda-feira, 7 de março de 2016

Duas vezes dezesseis: a vida como um ato de vontade

No dia 6 de março, aproveitei a madrugada para refletir (e continuo refletindo) e na tarde de domingo comemorei meu aniversário com minha esposa e meu filho no Jardim Botânico. Isso não tem nada a ver com os fios brancos ou as entradas que se estendem pela minha cabeça abrindo caminho na minha cabeleira, talvez tenha a ver um pouco, mas também tem a ver com a conclusão de uma parte de minha jornada na Terra em que tive que abrir caminho a golpes de marreta. Tudo era urgente e o caminho mais difícil era sempre o melhor, assim eu podia testar meus limites, uma atitude em parte consciente em parte inconsciente, mas sempre presente nos desafios e escolhas da minha vida. Só sei que são muitas recordações e momentos para refletir. Há 10 anos atrás, com 22 anos, eu saí da casa dos meus pais e fui viver com minha companheira, vivendo do meu trabalho, pagando meu aluguel e conquistando minha independência. Há 8 anos atrás eu me casei com a mulher que foi minha namorada dos tempos de colégio, minha companheira de militância, com quem estou há 16 anos, metade da minha vida, metade do meu tempo de vida na Terra, desde 2000; nós nos conhecemos no grêmio da escola e somos ambos professores. É uma pessoa com quem tenho total afinidade intelectual, afetiva e sexual, porque sem isso a vida a dois é bastante difícil. Há 8 anos também comecei minha jornada no magistério dando aulas de História no ensino fundamental. Há 5 anos atrás, com 27 anos, passei pelo momento mais triste da minha vida, quando fui preso numa manifestação contra o presidente dos Estados Unidos, eu e outros, simplesmente porque os governos estadual e federal queriam mostrar serviço para quem de fato manda e porque estávamos portando panfletos e bandeiras, muitos gritaram contra esse atentado à democracia mas nem todos podem saber o que é sofrer uma arbitrariedade dessas, o ato foi no dia 18 de março e no dia 19 de março eu estava  indo preso por 3 dias (tempo de permanência do chefe do imperialismo), esse foi o dia mais triste da minha vida, 19 de março, no mês do meu aniversário. Anos depois, aos 30 anos, há quase 2 anos, vivi o dia mais feliz da minha vida, o dia do nascimento do meu filho, dia 05 de junho de 2014. O momento mais feliz para mim não foi o do nascimento dele, mas quando eu estava conversando com ele no berçário e ele reconheceu minha voz, parou de chorar e olhou nos meus olhos, é uma emoção indescritível. Tudo isso faz parte de mim. Comecei minha adolescência buscando por liberdade. "Liberdade acima de tudo" era o meu lema. O conflito com os pais (que é o conflito de gerações, algo tão antigo quanto a humanidade) e a curiosidade, a criatividade e a coragem de me lançar em várias experiências enriqueceram o meu ser e me colocaram no caminho da autonomia e do autoconhecimento. Os meus 13 anos foram o início do meu caminho próprio. Os meus 16 anos foram o início da minha vida consciente e da descoberta do verdadeiro amor, um momento em que liberdade e felicidade se cruzaram. Os meus 20 anos foram marcados pela afirmação de uma existência autêntica e pela devoção a uma causa, a causa da revolução socialista. O meu lema na minha juventude era "Lutar por justiça"; essa era a minha meta, a minha prioridade na vida, acima da realização pessoal. Hoje eu já alcancei o que podia em termos de liberdade pessoal num mundo de alienação e pertencendo às classes subalternas, à classe trabalhadora. Meu principal objetivo nos dias de hoje é ser feliz, alcançar o máximo de felicidade possível na realidade humana, sempre trágica, sempre limitada. Agora, aos 32 anos, sou, antes de mais nada, pai do Arthur e marido, namorado, companheiro da minha namorada dos tempos de escola e ex-companheira de partido, a minha Pâmela. Na minha juventude, com toda a dispersão e variedade de experiências que marcaram minha vida, foram dois projetos coletivos que tiveram o foco da minha atenção: primeiro, a banda de rock Estado Independente dos meus 13 aos meus 20 anos; depois, dos meus 20 aos meus 27 anos, foi a militância revolucionária no PSTU. Foram 7 anos em cada projeto, em cada grupo, em cada atividade em que colocava minha vontade concentrada. Tenho orgulho da minha trajetória. Tenho orgulho de ter sido liderança estudantil e dirigente sindical, de ter sido vice-presidente do grêmio estudantil do CEI de Quintino/FAETEC, diretor do CA de História da UFF e do DCE-UFF, coordenador-geral do SEPE Regional 2. Tenho orgulho de ter me empenhado em buscar mais conhecimento, em estudar mesmo fazendo tudo isso; fiz mestrado em História Social Antiga na UFF e especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea na Faculdade de São Bento. Também publiquei 7 livros pelo site Clube de Autores e 3 livros pela editora Multifoco e é esse o meu caminho no momento; vou com minha vontade concentrada apostar na atividade de escritor. É o projeto pessoal que pode me dar mais o sentido de autorrealização, mais uma fronteira para eu explorar o meu potencial e também um meio de imprimir minha marca positivamente no mundo, com o alcance que puder e que merecer, uma busca de imortalidade desse pobre ateu, uma busca de glória, de um lugar especial na memória dos homens, mas também, num sentido pragmático, a atividade que posso conciliar com minha atividade profissional  atual no ensino básico e com minha vida em família, com tempo para dedicar à minha esposa e filho. Como preciso me mostrar para ter sucesso nesse empreendimento, a busca de me libertar do narcisismo (caraterística psicológica da maioria das pessoas na época contemporânea) instaura uma contradição no meu ser e na minha vida nesse momento e que não pode ser resolvida sem paciência, prudência e inteligência. Essa tentativa de me libertar de todo narcisismo e vaidade, no entanto, não se confunde com um abandono total e completo do ego. O indivíduo é a invenção mais importante da cultura ocidental. A afirmação da individualidade na perspectiva de expandir as minhas potencialidades é uma expressão particular da expansão e desenvolvimento do próprio potencial humano e uma afirmação do humanismo. Quero me afastar ainda de todo o mal e ter como lema agora "Não praticar o mal", na medida do que é possível para um ser humano normal. Ninguém nasce virtuoso; a virtude é uma meta pessoal, assim como a utopia é uma meta coletiva; uma leva à existência plenamente racional, moderada e equilibrada e outra leva ao bem comum e ao reino da liberdade. Nasci no dia 6 de março numa terça-feira de Carnaval, sob o signo de Peixes, ascendente em Touro, lua em Áries, meio-do-céu em Aquário e sol na casa 11. Esse é meu mapa astral, mas não é meu destino, é só uma marca quanto tantas outras. Também nasci com asma e epilepsia, mas nunca permiti que isso significasse um obstáculo intransponível. Faço agora o dobro de dezesseis, duas vezes dezesseis, e fiz da minha vida um ato de vontade; criei a mim mesmo. Fico feliz de ter tido os companheiros de luta que tive nas batalhas políticas que travei. Fico feliz também por ter tido magníficos companheiros de viagem em todos os momentos desses trinta anos. O meu impulso de liberdade me permitiu iluminar os caminhos por onde passei, como o fogo que afasta as sombras e os medos e abre caminho na noite. O meu impulso erótico me permitiu construir laços sólidos e amplos de amor e de amizade e agradeço ao destino por essa sorte. A minha agressividade sublimada, canalizada para objetivos racionais serviu de combustível para a minha vontade. A minha paixão pela vida me permitiu aproveitá-la nos melhores e nos piores momentos. Minha energia, essa quase inesgotável energia física e mental (agora nem tanto!), também me permitiu superar as dificuldades que surgiram pelo percurso. Quero ter a sabedoria, a virtude e a coragem suficientes para seguir numa existência ética e autêntica, sendo o que é preciso ser em momentos de confusão como o que vivemos: uma reserva moral, uma luz para o futuro; como pai e professor esse é meu dever. Aprofundar o autoconhecimento e o autocontrole, mas jamais negar a verdade, mesmo pela necessária diplomacia em nome do contrato social. Não sou religioso, mas busco iluminação. Talvez até o fim da vida, até o fim dos tempos, mas hoje eu vivo e luto, e vou dirigir minha ação consciente sobre a vida prática, mesmo me dedicando às tarefas do pensamento; dirigir minha vontade concentrada em direção a um objetivo sem descuidar dos entes queridos e dos princípios éticos. Quisera eu fosse um herói ou um gênio, mas é como simples mortal que enfrento os desafios da vida! Estou pronto. Posso comemorar meus 32 anos com minha paixão dirigida a um objetivo prático e que minha razão me guie.

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