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sexta-feira, 18 de março de 2016

O Golpe Judiciário-Parlamentar e a Saída Classista e Socialista para a Crise

O Judiciário cumpre hoje o papel político que as Forças Armadas cumpriram no passado. O apoio de parte da população a Sergio Moro e a Joaquim Barbosa e os apelos ao STF, ao Ministério Público e à Polícia Federal para resolverem as questões da política é algo parecido com o apoio popular às intervenções militares do passado como as que depuseram Dom Pedro II, Getúlio Vargas e João Goulart. Mas com a ditadura militar de 20 anos de assassinatos,torturas, prisões políticas e desaparecimentos o recurso à intervenção militar ficou desgastado. Por isso, hoje a parcela da burguesia mais ligada à camada de tecnocratas no poder, a grande mídia e setores burgueses e de classe média próximos da burocracia de Estado, apela hoje para uma intervenção judicial e um golpe parlamentar para dar alguma legitimidade, alguma máscara democrática; nesse quadro, a repressão policial e as ações das forças armadas viriam somente no sentido de "manter a ordem pública", ou seja, impedir qualquer resistência ao golpe judiciário-parlamentar. As manifestações de direita compostas por pessoas brancas de classe média ou ricas expressam um conteúdo ideológico claramente fascista e cumprem o papel de dar uma legitimidade "popular" à deposição do atual governo de centro-esquerda no poder. As movimentações do PMDB nessa conjuntura demonstram o tamanho do equívoco político do PT em se aliar aos setores majoritários da classe dominante para poder governar. A indiferença de Dilma e de Lula com a repressão praticada por seus aliados no Rio de Janeiro, Cabral, Pezão e Paes, com certeza, pesaram na hora de receberem o apoio daqueles cuja injustiça sofrida foi ignorada pelo governo federal: profissionais de educação, estudantes, militantes do PSTU, do PSOL, black blocs, anarquistas; alguns militantes, simpatizantes, quadros políticos e figuras públicas do PT e do PCdoB se manifestaram contrariamente às prisões políticas e à forte repressão policial que muitos militantes e organizações da oposição de esquerda sofreram especialmente no último período, de 2011 a 2014 (ato contra Obama no Rio em 2011, greve dos profissionais de educação da rede municipal do Rio de 2013, jornadas de junho de 2013, manifestações contra a Copa em 2014), mas o governo federal, a presidente Dilma, o ex-presidente Lula e ninguém do alto escalão do governo se pronunciou publicamente repudiando os abusos cometidos contra militantes menos ilustres e que divergem do atual governo. O PT também não se retirou nem do governo Cabral nem do governo Paes motivado pelo repúdio à repressão ao movimento social, uma questão não só política mas moral. É importante contextualizar a situação política que vivemos para que se possa entender porque as massas não saíram às ruas em defesa do governo. Ainda há a questão do ajuste fiscal, que ataca os direitos dos trabalhadores, e a possibilidade de uma nova reforma da previdência proposta pelo governo Dilma. A oposição de direita (PSDB, DEM e PPS) e o PMDB trabalham pela deposição do PT, mas as denúncias contra Aécio Neves, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Michel Temer enfraquecem esse setor, que pode até controlar a máquina e ter uma ascensão ao poder por meio de sua localização privilegiada na institucionalidade,mas amargam o repúdio popular também, de todos os lados, e cada vez se desgastam mais. Levando tudo isso em consideração, acredito que não cabe à oposição de esquerda fazer uma defesa política de Lula como faz a esquerda governista, mas repudiar a violação de seus direitos de cidadão por uma questão de princípio e por entender que o pedido de prisão preventiva de Lula, assim como sua condução coercitiva,são atos de provocação de setores da burguesia e da burocracia que querem mergulhar o país num conflito aberto num momento em que as esquerdas e os movimentos sociais estão desorganizados e a confusão reina no lado de cá. Mas PSTU,PSOL,PCB e PCO,os partidos da oposição de esquerda, não podem deixar de condenar a tentativa de golpe da direita e se mobilizar contra ele sob pena de cometer os mesmos erros dos comunistas da Alemanha, que priorizaram a luta contra a social-democracia e deixaram o caminho aberto para a ascensão dos nazistas (é importante contextualizar também esse fato já que importantes comunistas revolucionários como Rosa Luxemburgo foram mortos durante o governo social-democrata alemão,o que alimentou o sectarismo entre os comunistas junto com a linha equivocada da burocracia stalinista na década de 30). A oposição de esquerda deve construir uma mobilização independente contra o ajuste fiscal do governo federal (PT-PMDB) e contra o golpe da direita(PSDB-DEM),essa é a única posição de classe possível, defendendo os direitos sociais e as liberdades democráticas.

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