No vídeo “A História das Coisas”,
sucesso na internet visto por milhões de pessoas de todo o mundo, são
apresentados os conceitos de obsolescência planejada e obsolescência
perceptiva. A obsolescência planejada foi desenvolvida pelas indústrias
para que as coisas se tornem inúteis tão rápido quanto possível. A tecnologia
dos computadores, por exemplo, muda tão rápido que em poucos anos se torna
quase um impedimento para a comunicação. A obsolescência perceptiva é fabricada
pelas empresas por meio da publicidade e da propaganda e também da moda. Os
indivíduos são bombardeados com publicidade e são convencidos de que valem o
quanto consomem. Os consumidores jogam fora coisas que ainda são perfeitamente
úteis. Para que troquem suas coisas por outras novas sem que precisem, as
empresas mudam apenas a aparência das coisas, fazendo daqueles que não estão na
moda socialmente inferiores. Uma se dá na esfera da produção e outra se dá na
esfera do consumo.
Esse vídeo de Annie Leonard,
cientista ambiental que trabalhou com organizações como o Greenpeace e dirige o
Projeto História das Coisas, também fornece outro conceito, o de exteriorização
dos custos. Os produtos a preços baixos para os consumidores têm esses
preços porque os trabalhadores que os produzem e vendem ganham pouco e têm suas
condições de saúde e o meio ambiente onde vivem deteriorados. Isso é
exteriorização dos custos.
No livro “A História das Coisas”,
baseado no documentário, é exposta a diferença entre consumo e consumismo.
Diz a autora: “Enquanto consumo significa adquirir e utilizar bens e
serviços para atender às necessidades, consumismo refere-se à atitude de tentar
satisfazer carências emocionais e sociais através de compras e demonstrar o
valor pessoal por meio do que se possui”. E há ainda o superconsumismo, que
“é quando utilizamos recursos além dos necessários e dos que o planeta pode
suprir”.
Marcuse foi um filósofo que refletiu
sobre a nossa sociedade. Para ele, “o obsoletismo planejado” e “a produção e
consumo do supérfluo” são traços fundamentais da sociedade capitalista
desenvolvida na época contemporânea. Na nossa sociedade, “a mercadoria que tem
de ser comprada e usada traduz-se em objetos da libido”. Desse modo, a vida
humana e todas as suas manifestações vitais, físicas e mentais, são marcadas
pelo valor de troca e até o seu desejo e sua vontade são coisas ou podem ser
projetados em coisas que são compradas e vendidas. Além disso, a elevação do
padrão de vida a níveis nunca antes experimentados tornou uma necessidade
objetiva um elevado padrão de vida. Isso quer dizer que as pessoas se tornaram
prisioneiras de sua situação social, escravas de suas coisas. Para completar,
os meios de comunicação de massa martelam nas cabeças dos indivíduos aquilo que
eles devem desejar. A própria identidade do indivíduo contemporâneo é
construída pela massificação de marcas e exemplares da arte de entretenimento.
E qual é o resultado prático disso
tudo na vida das pessoas? No livro “A História das Coisas” podemos encontrar
parte da resposta para essa pergunta. De acordo com Annie Leonard e Ariane
Conrad, autoras do livro, em 2005, os chamados gastos pessoais, que representam
o valor destinado a bens e serviços em uma família, alcançaram 24 trilhões de
dólares no mundo todo. Nesse mesmo ano, só os americanos, tinham 832 bilhões de
dólares em dívidas de cartões de crédito. De acordo com dados do censo dos Estados
Unidos: “As dívidas dos consumidores aumentam numa taxa duas vezes maior do que
suas rendas”.
Sendo assim, além dos impactos
ambientais negativos, o consumismo tem gerado o superendividamento dos
consumidores e das famílias, que acumulam dívidas que se tornam impagáveis. E
isso é uma realidade também no Brasil. Os gastos com o pagamento de dívidas se
somam às contas de luz, água, gás, alimentação, transporte, moradia e superam a
renda mensal. Superar o consumismo depende de nós. A partir de uma atitude de
buscar a valorização do que é essencial, diferenciar o que é básico daquilo que
é supérfluo e elencar objetivos de curto, médio e longo prazo para a nossa
vida. Já o obsoletismo planejado é algo um pouco mais complexo porque se situa
no âmbito da produção. Portanto, nesse caso, cabe a nós, coletivamente, como
consumidores, trabalhadores, investidores, cidadãos cobrar das grandes empresas
uma atitude responsável e honesta, cobrar responsabilidade social e
responsabilidade ambiental. Não somos obrigados a ser clientes ou a financiar
empresas que não tenham compromisso com o planeta e com a sociedade. Exigir
essa responsabilidade das empresas também é exercer a cidadania.
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